quinta-feira, 28 de julho de 2016

"Novela - A Obra Aberta e Seus Problemas" - numa livraria perto de você!


Por FÁBIO COSTA

Amigos, lancei pela Giostri Editora um livro chamado Novela - A Obra Aberta e Seus Problemas (220 páginas, R$ 49), que fala dos muitos contratempos enfrentados pelos autores do gênero ao desenvolverem seus trabalhos. Os casos citados no livro abarcam cinco décadas de produção - de 1965, com Ainda Resta Uma Esperança, a 2015, com A Regra do Jogo - e são divididos em capítulos temáticos. O texto de contracapa, verdadeiro convite à leitura da obra, foi feito pelo amigo Nilson Xavier, colunista do UOL e do Canal Viva, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira (Panda Books, 2007) e criador do site Teledramaturgia. E quem prefaciou foi Lauro César Muniz, autor de grandes clássicos do gênero novela e que dispensa maiores apresentações. Basta dizer que foi quem criou Antônio Dias, João Maciel e Sassá Mutema.
Como autor, sou suspeito (rs), mas recomendo a leitura a todos aqueles que apreciam a telenovela enquanto entretenimento e manifestação artística e cultural do nosso povo, e também a todos os que têm vontade de trabalhar no meio. Afinal, não deixa de ser um manual com uma série de problemas já ocorridos na vida dos autores e a forma como foram resolvidos.
Caso você leia, mande para mim suas impressões sobre a leitura, críticas, sugestões, correções. Serão bem-vindas e ajudarão numa edição futura, além de me ajudarem na própria pesquisa sobre o universo da telenovela e o modo de melhor encará-la e desempenhá-la.

Links para aquisição do livro:

Giostri Editora - www.giostrieditora.com.br
Livraria Cultura - http://www.livrariacultura.com.br/p/novela-a-obra-aberta-e-seus-problemas-46330199
Livraria Saraiva - http://www.saraiva.com.br/novela-a-obra-aberta-e-seus-problemas-9350708.html
Companhia dos Livros - http://www.ciadoslivros.com.br/universo-hqs-e-mangas/novela-a-obra-aberta-e-seus-problemas-731892-p602867

domingo, 25 de janeiro de 2015

Luz, Câmera, Um Tempinho Atrás...

por FÁBIO COSTA

Nesta sexta-feira, dia 23, foi ao ar o último dos doze especiais do Festival Luz, Câmera, 50 Anos, com o qual a Rede Globo iniciou as comemorações de suas cinco décadas no ar exibindo versões compactas de duas horas de alguns clássicos.
"Clássicos" num sentido relativo e amplo do termo, já que das doze atrações apenas quatro tinham mais de 20 anos e pouco mais do que isso já atingiu esse status. A maioria das atrações do Festival foi exibida de 2009 para cá, sendo que O Canto da Sereia, exibida na estreia, foi ao ar pela primeira vez em 2013, e A Teia em 2014 (!).
Tânia Alves e Nelson Xavier em Lampião e Maria Bonita, primeira minissérie da Globo.
As versões para telefilmes apresentaram de cara um risco, que era o de se deturpar as histórias em função do tempo destinado a cada uma. Projetos de curta duração como Dercy de Verdade (2012), Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor (2010) e Maysa - Quando Fala o Coração (2009) apresentam já algum desafio de edição, que se potencializa ao passar-se para produções mais longas como Presença de Anita (2001), que teve 16 capítulos no original, por exemplo. Reduzir uma minissérie de 16 ou 20 capítulos para apenas duas horas implica foco único no fio condutor da história, na trama principal, em prejuízo grande dos elementos paralelos. Anos Dourados (1986) ficou apenas nos conflitos do romance de Lurdinha (Malu Mader) e Marcos (Felipe Camargo), sendo completamente esquecido outro romance importante: o da mãe do jovem, a desquitada Glória (Betty Faria), com o Major Dornelles (José de Abreu), casado com Beatriz (Nívea Maria). Por sua vez, As Noivas de Copacabana (1992) não apresentou uma cena sequer com a personagem Marilene (Tássia Camargo), nem foi feita qualquer alusão à sua presença na galeria de vítimas do assassino Donato (Miguel Falabella).
Malu Mader e Felipe Camargo em Anos Dourados.
Das atrações selecionadas (e exibidas), apenas quatro eram anteriores a 1995, para se tomar um período de 20 anos como recorte: As Noivas de CopacabanaO Pagador de Promessas (1988), Anos Dourados e Lampião e Maria Bonita (1982) - esta um grato achado, já que não é reprisada desde 1991 e ainda não foi lançada em DVD.
José Mayer em O Pagador de Promessas.
À exceção da minissérie que contou os últimos dias do lendário cangaceiro, todas as outras atrações já foram bastante reprisadas, são muito recentes e/ou podem ser facilmente encontradas (em versões integrais ou, ao menos, em compactos mais extensos) em DVD ou por canais on demand da própria Globo. Compreende-se que a dimensão dos programas do Festival - telefilmes de duas horas de duração cada - restrinja a gama de opções, afinal, nem toda história se presta a uma boa edição para este tempo. Mas quem sabe as duas horas não seriam uma questão para se rever a proposta, já que restringem tanto as opções? Por que não uma atração por semana, em quatro ou cinco apresentações de uma hora?
Quanto às atrações recentes serem maioria, além de ser expediente comum em se tratando de reprises, pode também se dever a uma ideia de que o público deve ter frescas na memória produções recentes de qualidade e repercussão, e muito saudosismo pode passar, ainda que inconscientemente, a noção de que antes se fazia coisas como hoje anda faltando.
Miguel Falabella em As Noivas de Copacabana.
Uma emissora como a Globo, ainda mais em suas comemorações de 50 anos, deveria aproveitar a oportunidade e não relegar apenas ao Viva a tarefa de resgatar seus clássicos. O público merece e precisa rever (ou conhecer) produções de nossa teledramaturgia que há muito não ganham as telas, como Avenida Paulista (1982), Tenda dos Milagres (1985), Boca do Lixo (1990), Incidente em Antares (1994), entre outras, e para falar apenas de minisséries. Acredito (e torço para) que a boa receptividade das reprises, ainda que em telefilmes, possa fazer a emissora repensar sua estratégia de programação. Julho é uma boa oportunidade que desde já se apresenta.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Uma inteligência a ser (re) descoberta

Depois de mais algum tempo de hiato, volto empolgado para escrever sobre uma figura de nossas comunicações no século XX: Carlos Queiroz Telles. Li há algum tempo seu livro de memórias, Tirando de Letra (Editora Best Seller, 1993), o qual recomendo bastante e que me inspirou a vir aqui falar dele.
Queiroz, como era chamado desde os tempos de propaganda, em que se iniciou em fins da década de 1950, foi publicitário, escritor (inclusive de livros infantojuvenis), poeta, jornalista, dramaturgo, professor na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), chefe do departamento cultural da TV Cultura por dez anos e, certamente, embora não o tenha conhecido, uma pessoa de grande senso de humor e inteligência, a julgar pelos escritos que deixou.
Este seu livro de memórias traça ao mesmo tempo a linha evolutiva de sua vida profissional (o foco do texto) e ajuda a construir a história recente da publicidade, da televisão e do teatro no Brasil. Queiroz enfrentou o desafio de adaptar para o teatro Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões (numa peça que recebeu o nome de A Viagem, encenada por Ruth Escobar e arrebatadora de diversos prêmios na década de 1970) e Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski, para a televisão, numa novela da extinta Rede Tupi que se chamou O Julgamento e foi exibida no horário nobre entre 1976 e 1977.
Aliás, foi quase unicamente por Queiroz ter sido adaptador desta obra capital do escritor russo foi que eu me interessei em ler suas memórias. Na hora em que vi o livro me lembrei de que ele havia escrito a novela em parceria com Renata Pallottini e, em sendo um livro de rememorações de sua vida, me ocorreu que quem sabe pudesse falar na novela. E falou mesmo, um relato ao mesmo tempo engraçado, curioso e entristecedor.
Renata Pallottini, parceira de Queiroz na autoria da novela.
Conta Queiroz que, quando arriscou oferecer à Tupi o projeto que havia imaginado, a adaptação de Os Irmãos Karamazov, preparou-se o mais que pôde para uma reunião com o supervisor geral da teledramaturgia da casa, Carlos Zara. Levou todos os noventa capítulos previstos escaletados, ou seja, planejados em minúcias, embora sem os diálogos, claro. Ao chegar na sala de Zara começou a desenrolar o supertrabalho que trouxera e "começou a chegar gente na sala do Zara". Claro que o projeto foi aprovado sem delongas, mas aí é que começariam as dificuldades, já que Renata Pallottini também estreava como autora de novela, tendo na ocasião escrito alguns unitários.
Numa visita aos estúdios da emissora para ver como estavam ficando os cenários para o início das gravações, Queiroz estranhou as cores e perguntou a um funcionário por que todos os cenários eram marrons. "Acha que tem outra cor de tinta aqui na Tupi?" E essa resposta ocorreu na mesma emissora que acabara de apresentar os sucessos A Viagem (Ivani Ribeiro), Meu Rico Português (Geraldo Vietri), Ídolo de Pano (Teixeira Filho), entre tantos outros.
Passados o choque e a surpresa, Queiroz e Renata desenvolveram um trabalho árduo de adaptação do romance, não apenas transpondo a história de uma aldeia russa para uma cidade do interior paulista, mas analisando as características dos personagens e procurando manter ao máximo a integridade da obra, sem deixar de lado as necessidades do gênero telenovela como os ganchos, o encadeamento dos diversos núcleos etc. - embora, diga-se de passagem, quem já leu esta ou qualquer outra obra de Dostoiévski sabe que ele encadeava muito bem as tramas e construía muito bem seus personagens, principais e secundários (mais algumas curiosidades a respeito do trabalho de Renata e Queiroz na autoria da novela, leia-se o livro).
Eva Wilma e Cláudio Corrêa e Castro em cena da novela.
Dirigida por Edison Braga, O Julgamento trazia em seu elenco Carlos Zara, Eva Wilma, Cláudio Corrêa e Castro, Adriano Reys, Ewerton de Castro, Tony Ramos, Elaine Cristina, Cleyde Yaconis, Maria Luiza Castelli, Henrique Martins, Elias Gleizer, Wanda Stefânia, Carminha Brandão, Sílvio Rocha, Denise Del Vecchio e Ruthinéa de Moraes, entre outros.
Irene Ravache, apresentadora de A História da Telenovela.
Carlos Queiroz Telles foi também um dos responsáveis por um dos melhores trabalhos já feitos na televisão para contar a história da teledramaturgia brasileira: a série A História da Telenovela, produzida pela TV Cultura de São Paulo, estreada e exibida em 1979 e reprisada ao longo da década de 1980, com apresentação de Irene Ravache e os comentários mais que próprios de Helena Silveira. Cada programa era centrado num aspecto da produção de teledramaturgia ou de sua história - o teleteatro, o especial, maquiagem e caracterização, cenografia, direção, a obra de cada autor, o trabalho de construção dos personagens pelos atores... Uma joia, que mesmo hoje, ainda que as novelas mais recentes de que se trata nela sejam de seu ano de produção, mereceria uma reprise integral.
Nascido em 1936, Carlos Queiroz Telles faleceu em 1993, salvo engano pouco depois da chegada de Tirando de Letra às livrarias. Faz falta no cenário nacional uma figura com sua inteligência, senso de humor e que primava pela lealdade e firmeza de princípios, como transparece das páginas de suas memórias.

domingo, 13 de março de 2011

A falta que o teleteatro faz

Atualmente, contando as reprises e as produções estrangeiras exibidas dubladas, temos em exibição um total de treze novelas, sem contar a “novelinha” Malhação. Deixando-as de lado e sem contar minisséries e séries, sinto particularmente falta de programas de um gênero que infelizmente foi deixado de lado: o unitário, em suas variadas vertentes.
Unitário nada mais é que, sem que seja integrante de uma série em que os episódios, embora fechados, retomem os mesmos personagens toda semana, traz uma história que se desenvolve e se conclui num único programa, geralmente de uma hora de duração. São exemplos disso os “especiais” produzidos pela Rede Globo nos fins de ano (geralmente como programas-piloto dos projetos pensados para a grade do ano seguinte) e os “casos especiais” exibidos com esta e outras denominações desde a década de 1970.
Atento principalmente para a falta, por razões nas quais pensaremos a seguir, de uma vertente de teledramaturgia em especial: o teleteatro, pai do formato unitário, nascido com a própria TV no Brasil, na Tupi, com programas como TV de Vanguarda e Grande Teatro Tupi, na década de 1950. O teleteatro, que reinou absoluto antes da era da telenovela, tendo inclusive convivido com esta por algum tempo até sucumbir completamente, era não só uma vitrine das grandes obras da literatura e do teatro universais ou do melhor elenco disponível, mas principalmente um exercício ímpar de dramaturgia para atores, diretores, produtores, técnicos e, acima de tudo, para os telespectadores.
O teleteatro, de grande força nas décadas de 1950 e 1960, viu seu público habituar-se às telenovelas e aos enlatados norte-americanos e já na década de 1970 transformou-se, em iniciativas como o já citado Caso Especial e o programa Teatro 2, na TV Cultura, uma iniciativa de Nydia Lícia. Depois de anos em busca de uma linguagem para a televisão, sem que se vivesse apenas de copiar o cinema e/ou aproveitar as fórmulas consagradas pelo rádio e também, conforme depoimentos de pioneiros do teleteatro como Walter George Durst, graças a certo esgotamento do gênero junto ao público, depois de quase duas décadas, os especiais globais e as produções da Cultura mantinham o estilo em voga, embora sem o sucesso de outrora.
Lima Duarte em Corpo Fechado, no Teatro 2
O Teatro 2, do qual alguns programas foram reprisados em certas ocasiões pela emissora – como Vestido de Noiva (Nelson Rodrigues), Crime e Castigo (Fiodor Dostoievski), Réveillon (Flávio Márcio), A Ceia dos Cardeais (Júlio Dantas) e Corpo Fechado (Guimarães Rosa), entre outros –, foi um verdadeiro laboratório de criação para diretores como Adhemar Guerra e Antunes Filho, com verdadeiros híbridos de teatro e televisão como resultado. Caso Especial, por sua vez, foi um programa que teve seu auge na década de 1970 e que, ao longo dos anos, com a denominação modificada para Brasil Especial ou, mais recentemente, Brava Gente, manteve na televisão brasileira a tradição, por assim dizer, dos unitários que, convém lembrar, são deixados de lado pelas emissoras muito também por custarem caro, e o investimento isolado em cada história ser muito alto, em especial se comparado com os custos das telenovelas, que se diluem no decorrer dos meses de produção.
O próprio Você Decide, da década de 1990, apesar de seu caráter interativo, já que nele o público decidia o final das histórias entre duas ou mais opções disponíveis, não deixa de ser também um filho dileto do teleteatro, com sua característica básica de contar o começo, o meio e o fim de uma história numa mesma apresentação. Tal como os teleteatros clássicos, também esgotou-se com o passar dos anos.
Além de esgotamento junto ao público (conclusão a que se chegou já na década de 1970), da carestia da produção e da hegemonia da novela na teledramaturgia, que outros fatores impediriam a presença de um TV de Vanguarda, um Teatro Cacilda Becker ou coisa parecida na televisão hoje em dia? Não muito tempo atrás a TV Cultura, sempre ela, exibiu o ciclo Senta que Lá Vem Comédia, em que a cada semana eram exibidas peças que iam desde Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera (Gláucio Gil) até Os Ossos do Barão (Jorge Andrade). Outro ciclo especial, Direções, em suas três edições, propôs novas formas de se fazer dramaturgia em TV, algo próximo do teleteatro, guardadas as devidas, inclusive com diretores como André Garolli, de experiência nos palcos e nos estúdios, e Rodolfo Garcia Vázquez, d’Os Satyros.
Claro que atualmente não é estritamente necessário, como o era para o “seleto e culto” público de TV dos anos 50, televisionar peças simplesmente ou trazer as melhores companhias teatrais para apresentações nos estúdios. No entanto, o unitário, ainda que de maneira eventual, dosada, serve para aliviar o público das histórias parceladas que se arrastam por meses e meses. Gosto muito de telenovelas, mas boas histórias parceladas podem conviver sem maiores problemas, penso, com outras tão boas quanto que se fechem numa apresentação só.