Mostrando postagens com marcador Globo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Globo. Mostrar todas as postagens

domingo, 25 de janeiro de 2015

Luz, Câmera, Um Tempinho Atrás...

por FÁBIO COSTA

Nesta sexta-feira, dia 23, foi ao ar o último dos doze especiais do Festival Luz, Câmera, 50 Anos, com o qual a Rede Globo iniciou as comemorações de suas cinco décadas no ar exibindo versões compactas de duas horas de alguns clássicos.
"Clássicos" num sentido relativo e amplo do termo, já que das doze atrações apenas quatro tinham mais de 20 anos e pouco mais do que isso já atingiu esse status. A maioria das atrações do Festival foi exibida de 2009 para cá, sendo que O Canto da Sereia, exibida na estreia, foi ao ar pela primeira vez em 2013, e A Teia em 2014 (!).
Tânia Alves e Nelson Xavier em Lampião e Maria Bonita, primeira minissérie da Globo.
As versões para telefilmes apresentaram de cara um risco, que era o de se deturpar as histórias em função do tempo destinado a cada uma. Projetos de curta duração como Dercy de Verdade (2012), Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor (2010) e Maysa - Quando Fala o Coração (2009) apresentam já algum desafio de edição, que se potencializa ao passar-se para produções mais longas como Presença de Anita (2001), que teve 16 capítulos no original, por exemplo. Reduzir uma minissérie de 16 ou 20 capítulos para apenas duas horas implica foco único no fio condutor da história, na trama principal, em prejuízo grande dos elementos paralelos. Anos Dourados (1986) ficou apenas nos conflitos do romance de Lurdinha (Malu Mader) e Marcos (Felipe Camargo), sendo completamente esquecido outro romance importante: o da mãe do jovem, a desquitada Glória (Betty Faria), com o Major Dornelles (José de Abreu), casado com Beatriz (Nívea Maria). Por sua vez, As Noivas de Copacabana (1992) não apresentou uma cena sequer com a personagem Marilene (Tássia Camargo), nem foi feita qualquer alusão à sua presença na galeria de vítimas do assassino Donato (Miguel Falabella).
Malu Mader e Felipe Camargo em Anos Dourados.
Das atrações selecionadas (e exibidas), apenas quatro eram anteriores a 1995, para se tomar um período de 20 anos como recorte: As Noivas de CopacabanaO Pagador de Promessas (1988), Anos Dourados e Lampião e Maria Bonita (1982) - esta um grato achado, já que não é reprisada desde 1991 e ainda não foi lançada em DVD.
José Mayer em O Pagador de Promessas.
À exceção da minissérie que contou os últimos dias do lendário cangaceiro, todas as outras atrações já foram bastante reprisadas, são muito recentes e/ou podem ser facilmente encontradas (em versões integrais ou, ao menos, em compactos mais extensos) em DVD ou por canais on demand da própria Globo. Compreende-se que a dimensão dos programas do Festival - telefilmes de duas horas de duração cada - restrinja a gama de opções, afinal, nem toda história se presta a uma boa edição para este tempo. Mas quem sabe as duas horas não seriam uma questão para se rever a proposta, já que restringem tanto as opções? Por que não uma atração por semana, em quatro ou cinco apresentações de uma hora?
Quanto às atrações recentes serem maioria, além de ser expediente comum em se tratando de reprises, pode também se dever a uma ideia de que o público deve ter frescas na memória produções recentes de qualidade e repercussão, e muito saudosismo pode passar, ainda que inconscientemente, a noção de que antes se fazia coisas como hoje anda faltando.
Miguel Falabella em As Noivas de Copacabana.
Uma emissora como a Globo, ainda mais em suas comemorações de 50 anos, deveria aproveitar a oportunidade e não relegar apenas ao Viva a tarefa de resgatar seus clássicos. O público merece e precisa rever (ou conhecer) produções de nossa teledramaturgia que há muito não ganham as telas, como Avenida Paulista (1982), Tenda dos Milagres (1985), Boca do Lixo (1990), Incidente em Antares (1994), entre outras, e para falar apenas de minisséries. Acredito (e torço para) que a boa receptividade das reprises, ainda que em telefilmes, possa fazer a emissora repensar sua estratégia de programação. Julho é uma boa oportunidade que desde já se apresenta.

domingo, 13 de março de 2011

A falta que o teleteatro faz

Atualmente, contando as reprises e as produções estrangeiras exibidas dubladas, temos em exibição um total de treze novelas, sem contar a “novelinha” Malhação. Deixando-as de lado e sem contar minisséries e séries, sinto particularmente falta de programas de um gênero que infelizmente foi deixado de lado: o unitário, em suas variadas vertentes.
Unitário nada mais é que, sem que seja integrante de uma série em que os episódios, embora fechados, retomem os mesmos personagens toda semana, traz uma história que se desenvolve e se conclui num único programa, geralmente de uma hora de duração. São exemplos disso os “especiais” produzidos pela Rede Globo nos fins de ano (geralmente como programas-piloto dos projetos pensados para a grade do ano seguinte) e os “casos especiais” exibidos com esta e outras denominações desde a década de 1970.
Atento principalmente para a falta, por razões nas quais pensaremos a seguir, de uma vertente de teledramaturgia em especial: o teleteatro, pai do formato unitário, nascido com a própria TV no Brasil, na Tupi, com programas como TV de Vanguarda e Grande Teatro Tupi, na década de 1950. O teleteatro, que reinou absoluto antes da era da telenovela, tendo inclusive convivido com esta por algum tempo até sucumbir completamente, era não só uma vitrine das grandes obras da literatura e do teatro universais ou do melhor elenco disponível, mas principalmente um exercício ímpar de dramaturgia para atores, diretores, produtores, técnicos e, acima de tudo, para os telespectadores.
O teleteatro, de grande força nas décadas de 1950 e 1960, viu seu público habituar-se às telenovelas e aos enlatados norte-americanos e já na década de 1970 transformou-se, em iniciativas como o já citado Caso Especial e o programa Teatro 2, na TV Cultura, uma iniciativa de Nydia Lícia. Depois de anos em busca de uma linguagem para a televisão, sem que se vivesse apenas de copiar o cinema e/ou aproveitar as fórmulas consagradas pelo rádio e também, conforme depoimentos de pioneiros do teleteatro como Walter George Durst, graças a certo esgotamento do gênero junto ao público, depois de quase duas décadas, os especiais globais e as produções da Cultura mantinham o estilo em voga, embora sem o sucesso de outrora.
Lima Duarte em Corpo Fechado, no Teatro 2
O Teatro 2, do qual alguns programas foram reprisados em certas ocasiões pela emissora – como Vestido de Noiva (Nelson Rodrigues), Crime e Castigo (Fiodor Dostoievski), Réveillon (Flávio Márcio), A Ceia dos Cardeais (Júlio Dantas) e Corpo Fechado (Guimarães Rosa), entre outros –, foi um verdadeiro laboratório de criação para diretores como Adhemar Guerra e Antunes Filho, com verdadeiros híbridos de teatro e televisão como resultado. Caso Especial, por sua vez, foi um programa que teve seu auge na década de 1970 e que, ao longo dos anos, com a denominação modificada para Brasil Especial ou, mais recentemente, Brava Gente, manteve na televisão brasileira a tradição, por assim dizer, dos unitários que, convém lembrar, são deixados de lado pelas emissoras muito também por custarem caro, e o investimento isolado em cada história ser muito alto, em especial se comparado com os custos das telenovelas, que se diluem no decorrer dos meses de produção.
O próprio Você Decide, da década de 1990, apesar de seu caráter interativo, já que nele o público decidia o final das histórias entre duas ou mais opções disponíveis, não deixa de ser também um filho dileto do teleteatro, com sua característica básica de contar o começo, o meio e o fim de uma história numa mesma apresentação. Tal como os teleteatros clássicos, também esgotou-se com o passar dos anos.
Além de esgotamento junto ao público (conclusão a que se chegou já na década de 1970), da carestia da produção e da hegemonia da novela na teledramaturgia, que outros fatores impediriam a presença de um TV de Vanguarda, um Teatro Cacilda Becker ou coisa parecida na televisão hoje em dia? Não muito tempo atrás a TV Cultura, sempre ela, exibiu o ciclo Senta que Lá Vem Comédia, em que a cada semana eram exibidas peças que iam desde Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera (Gláucio Gil) até Os Ossos do Barão (Jorge Andrade). Outro ciclo especial, Direções, em suas três edições, propôs novas formas de se fazer dramaturgia em TV, algo próximo do teleteatro, guardadas as devidas, inclusive com diretores como André Garolli, de experiência nos palcos e nos estúdios, e Rodolfo Garcia Vázquez, d’Os Satyros.
Claro que atualmente não é estritamente necessário, como o era para o “seleto e culto” público de TV dos anos 50, televisionar peças simplesmente ou trazer as melhores companhias teatrais para apresentações nos estúdios. No entanto, o unitário, ainda que de maneira eventual, dosada, serve para aliviar o público das histórias parceladas que se arrastam por meses e meses. Gosto muito de telenovelas, mas boas histórias parceladas podem conviver sem maiores problemas, penso, com outras tão boas quanto que se fechem numa apresentação só.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Jorge Andrade: um intelectual incompreendido

Um olá a todos, mais de ano já passado desde a última postagem. Confusões pessoais e profissionais e, não mentirei, preguiça e falta de inspiração, ora uma ora outra, me levaram a não escrever esse tempo todo aqui. Mas estou de volta, com os mesmos propósitos (rs).
Postarei um texto que escrevi para o blog Memória da TV, do amigo Guilherme Staush, a respeito de Jorge Andrade, o grande dramaturgo. As ilustrações, como se poderá notar (rs), são do blog.


Talvez esteja equivocado ao chamar Aluísio Jorge de Andrade Franco de “intelectual incompreendido”. Ou não. Saudado entre os maiores dramaturgos do teatro brasileiro moderno, com sua obra permeada pela troca de mãos do poder dos fazendeiros cafeicultores para a burguesia representada em especial pelos imigrantes que enriqueceram, tema recorrente junto do conflito de gerações, de valores e o embate entre a tradição e a modernidade.
.
Este paulista de Barretos nascido em 1922, principalmente depois de se tornar autor de novelas de televisão se viu entre o teatro, em que era tido como autor cuja qualidade dramática era elitista e requintada demais, e a televisão, em que igualmente seu texto era visto como “de muita qualidade” para o veículo. Um contra-senso, quando nos lembramos do conceito que Jorge Andrade fazia do trabalho de novelista quanto a poder propagar as ideias de suas peças para muito mais pessoas ao mesmo tempo, se as expressasse por meio das telenovelas, de tão grande alcance. Pensamento este, aliás, compartilhado por Dias Gomes, também nascido em 1922 (e morto em 1999) e que também passou do teatro à televisão por enxergar no veículo condições de propagar os ideais de seus personagens a muito mais gente simultaneamente.

São de sua autoria peças que marcaram a evolução do teatro brasileiro no século XX como A Moratória, Os Ossos do Barão, A Escada, Vereda da Salvação, além de Pedreira das Almas, Senhora da Boca do Lixo, Milagre na Cela e outras. Seu nome é um marco quando se reconstitui o significado do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) para a história do teatro no Brasil.

Era sabido que, por defender sua arte e o trabalho artístico possível mesmo num veículo considerado menor por muitos intelectuais, pouco ligava para números de audiência ou pesquisas de opinião ao conduzir suas histórias, desenvolver em capítulos os dramas de seus personagens. Tampouco Jorge Andrade se acreditava influenciável pelo desempenho dos atores, ao ver o trabalho no ar, para desenvolver o que ainda estaria por vir.

Tinha por hábito, sempre que acertava a escrita de uma novela, o desenvolvimento de uma sinopse de volume considerável e descrições detalhadas de características dos personagens, chegando a três ou quatro laudas para cada um deles. Bem como tinha toda a história que pretendia contar predeterminada, construída, e com isso mesmo justificava seu dar de braços para o Ibope ou para pesquisas encomendadas pela emissora a respeito de pares românticos, temáticas etc.
.
A estreia de Jorge Andrade como autor de telenovelas deu-se em 1973 quando, convidado pela Rede Globo, iniciou o trabalho de adaptação de sua peça Os Ossos do Barão para a televisão. O horário era o das dez da noite, e a novela substituiria O Bem-amado, de Dias Gomes, primeira em cores produzida no Brasil e marcada pelo sucesso.
.
Na novela, Andrade juntou os eixos principais de duas peças: além da que intitulava o trabalho e tratava da busca de um ex-colono italiano, hoje industrial poderoso, por um título de nobreza, figurava também A Escada com o tema dos patriarcas que, já idosos, levam os filhos a considerar a ideia de interná-los num asilo. Egisto Ghirotto, o italiano, foi interpretado por Lima Duarte. Antenor e Melica, os velhinhos cujos filhos se viam em torno da decisão de internar ou não, eram Paulo Gracindo e Carmem Silva. Junto a eles, um elenco estelar: Leonardo Villar, Dina Sfat, José Wilker, Lélia Abramo, Maria Luiza Castelli, Sandra Bréa, Renata Sorrah, Elza Gomes, José Augusto Branco, Gracindo Júnior, Ruth de Souza, Edney Giovenazzi e Bibi Vogel, entre outros. A direção foi de Régis Cardoso. Como diz Ismael Fernandes em seu Memória da Telenovela Brasileira (Brasiliense, 1994), “a fusão das duas peças teatrais foi o esteio funcional de toda a novela, as obras se ajustaram dando possibilidade de criação em que uma completava as indagações da outra”. Os outrora poderosos barões de café, enfraquecidos e pobres, moravam agora nas cidades, em apartamentos que correspondiam a frações ínfimas de suas casas senhoriais, acompanhando impotentes a ascensão de outros grupos que ocupavam o lugar que outrora foi deles.

Foi um trabalho de êxito de crítica e de público, no ar de outubro de 1973 a março de 1974, dirigido por Walter Avancini. Sua segunda investida, dois anos depois e no mesmo horário das dez, já não pode ser considerada da mesma forma. O Grito, exibida de outubro de 1975 a abril de 1976, enfrentou muitos problemas. Principalmente por exibir São Paulo de uma maneira considerada fora da realidade da cidade, quando na verdade a mostrava como era e é: caótica, claustrofóbica, confusa. O grito do título tanto era o de Paulinho (Marcos Andreas), o filho da ex-freira Marta (Glória Menezes) que gritava de madrugada devido a uma doença, perturbando o sono dos moradores do Edifício Paraíso (espécie de microcosmo da cidade) e gerando um movimento para expulsá-los de lá, como podia ser o do homem urbano, oprimido pela cidade grande, seus conflitos, problemas, questões que mexem com a vida de todos, mas para as quais poucos atentam, que tem em Gilberto (Walmor Chagas) grande representante. O Paraíso, décadas antes construído para abrigar famílias abastadas, passa por adaptações e aceita como moradores pessoas de classe média e baixa, enquanto no andar superior moram os aristocratas Edgar (Leonardo Villar) e Mafalda (Maria Fernanda).
.
Apenas três anos depois, em maio de 1979, e agora na Rede Tupi, é que Jorge faria sua terceira investida no gênero telenovela. Exibida às nove da noite, num esquema parecido com o “quando acabar a novela da Globo” que o SBT adota, ia ao ar Gaivotas, cuja trama trazia como protagonista Daniel (Rubens de Falco), um empresário riquíssimo que reúne seus amigos de colégio trinta anos depois da formatura da turma.
.
Certo, mas para quê? Desejo de ensinar a eles como dar certo na vida tal qual ele, vontade de humilhá-los como faziam com ele, agora que está em condições? Simplesmente passar uns tempos com eles, quem sabe tentar conhecê-los melhor e dar início enfim a amizades verdadeiras, passada a juventude? Rever o grande amor, com a desculpa da reunião da turma? Puro saudosismo? Essa indagação permanece ao longo de toda a trama, mesmo quando se sabe que ele, acusado injustamente de ter parte na morte da professora Norma (Selma Egrei), quer provar sua inocência e descobrir o verdadeiro culpado.
.
De origem pobre, Daniel só conseguiu estudar graças a uma bolsa que ganhara no Externato Pacheco, de propriedade de Dona Idalina (Márcia Real). Os alunos, em especial Maria Emília (Yoná Magalhães), seu grande amor, o desprezavam. Nos trinta anos que se seguiram à humilhação da formatura, Daniel ascendeu espantosamente enquanto os colegas decaíram, embora hoje permaneçam apegados a valores e hábitos de antes – em especial Maria Emília, que conserva a altivez. Durante alguns dias, a reunião da turma no solar de Daniel traz de volta o passado que une a todos num segredo comum e mostra como o presente pode ser determinado de forma decisiva pelo passado. Não à toa, o slogan promocional da história era “O reencontro do tempo perdido, trinta anos depois”. Exibida até outubro, Gaivotas tinha o “Libertango” de Piazzolla na abertura e, no elenco, Isabel Ribeiro, Altair Lima, Cleyde Yaconis, Berta Zemmel, John Herbert, Wilson Fragoso, Laura Cardoso, Elizabeth Gasper, Serafim Gonzalez, Paulo Hesse, Abrahão Farc, Gésio Amadeu, Geórgia Gomide, Francisco Milani, entre outros, além de atores jovens que depois se consagrariam no gênero: Edson Celulari, Cristina Mullins, Paulo Castelli. A direção foi de Antonio Abujamra, Henrique Martins e Edison Braga.
.
Entre 1981 e 1982, adaptou o romance O Fiel e a Pedra, de Osman Lins, para o projeto Tele-romance da TV Cultura, e assumiu a autoria de duas telenovelas “com o bonde andando”, na Rede Bandeirantes: Dulcinéa Vai à Guerra, de Sérgio Jockyman, e Os Adolescentes, de Ivani Ribeiro.
.

Em substituição a Os Adolescentes, a emissora estreou em abril de 1982 no horário (21h15) Ninho da Serpente, grande momento da obra do autor. O título fazia referência à mansão do Jardim América, São Paulo, praticamente cenário único da história, e à matriarca Guilhermina Taques Penteado (Cleyde Yaconis) reinava soberana junto a filhos, genros, netos e criados, todos às voltas com a herança de Cândido Taques, seu irmão, que ao morrer deixa a dinheirama para Matheus (Kito Junqueira), seu enfermeiro (e, sabemos depois, seu filho). A herança move todos os personagens, tanto que o título da novela, dirigida por Henrique Martins e Antonio Abujamra, quase foi Os Herdeiros.
.
Ainda que desprestigiada pelo testamento do irmão, Guilhermina não perde a pose, apegada que é às tradições quatrocentonas, importando para ela manter sua família no poder, de que forma for. Assim, não vê obstáculo no casamento de Matheus com sua neta Lídia (Eliane Giardini), embora ele tenha origem pobre, mas é terminantemente contrária ao romance do irmão de Lídia, Karl (Paulo César Grande), com a jovem Marinalda (Mayara Magri), uma das empregadas da casa, que termina morta após ser enforcada em seu quartinho.
.
Um mês após a estreia, Ninho da Serpente passou para as oito da noite, passando a competir com Janete Clair e sua Sétimo Sentido na Globo, numa cartada em que a emissora usou o slogan “A novela das oito mudou de canal”. No elenco, ainda as presenças de Beatriz Segall, Laura Cardoso, Márcia de Windsor, Luiz Carlos de Moraes, Antônio Petrin, Carmem Silva, Selma Egrei, Othon Bastos, Imara Reis, Jairo Arco e Flexa, Raymundo de Souza, Sônia Oiticica, Nydia Lícia e Juca de Oliveira, entre outros. Ainda, destaque para a presença da atriz Denise Stoklos, de raros trabalhos em televisão, vivendo Oriana, uma das criadas.
.
O último trabalho de Jorge Andrade na telenovela, Sabor de Mel, foi lançado em abril de 1983 pela Rede Bandeirantes de forma audaciosa, o que se verifica no slogan “A novela das oito mudou de canal”, novamente utilizado nas propagandas, valendo-se do fato de a Rede Globo então estar com uma reprise em pleno horário nobre, a de O Casarão (1976), de Lauro César Muniz. A protagonista era Laura (Sandra Bréa), a “esfinge do Morumbi”, mulher riquíssima que resolve anunciar no jornal que pagará 50 milhões de cruzeiros a quem conseguir decifrar um enigma que propõe.
.
A convivência de Laura com os diversos interessados que se apresentam, suas histórias de vida e propósitos para o que fazer com o dinheiro, era o mote principal. E a emissora também oferecia aos telespectadores a oportunidade de ganhar dinheiro desvendando o enigma de Laura, a saber: “Não existiu, mas aprisionou e torturou; envenenou e corrompeu; atormentou, levando à ignorância e ao medo. Suplício do qual o homem, cumprindo seu destino, libertou-se e transcendeu. Dragão maligno, que os jovens de hoje venceram com a espada da esperança.” A resposta era “o pecado”.
.
No elenco milionário contratado pela emissora estavam Raul Cortez, Flávio Galvão, Gianfrancesco Guarnieri (que substituiu Paulo Autran pouco antes da estreia), Célia Helena, Eva Todor, Carmem Silva, Françoise Forton, Mila Moreira, Karin Rodrigues e Odilon Wagner, entre outros, além da presença de Clodovil Hernandez de forma quase biográfica. Infelizmente, o impacto dos capítulos iniciais, de boa audiência foi sufocado pela Rede Globo com a antecipação da estreia de Louco Amor, de Gilberto Braga, para o dia 11 de abril, uma semana depois. Assim, Sabor de Mel acabou perdendo público e terminou como fracasso de audiência, sendo inclusive encurtada (terminou em julho) e rendendo a Jorge um afastamento, por se negar a “baixar o nível” a fim de melhorar os números.
.
Jorge Andrade faleceu em 1984, entristecido pela condição de sua obra, perdida entre a aceitação teatral e televisiva. Um caso de autor “perseguido” não pela falta de qualidade de seus trabalhos, mas justamente por apresentá-la em excesso, quem sabe. Para nós, principalmente considerando suas peças teatrais, fica o legado de um autor que, através de seus personagens apegados a valores ultrapassados, títulos de nobreza, “pedigree”, e seus embates com aqueles que os querem fazer compreender o mundo moderno, que dispensa esse tipo de coisa, apresentou uma representação da construção da sociedade paulista e brasileira, abordando seus problemas para que, a partir dessa abordagem, eles fossem discutidos e, quem sabe, solucionados. Declarou ele certa vez que “só através da cultura e da compreensão dos seus problemas é que o homem se liberta”. Faz sentido.

terça-feira, 24 de março de 2009

Paraíso - Às seis, uma viagem ao interior

Desde a semana passada, está no ar no horário global das 18h um agradável remake de Paraíso, novela de Benedito Ruy Barbosa cuja versão original fora exibida no mesmo horário entre agosto de 1982 e março de 1983. Depois de Negócio da China, de Miguel Falabella, que enfrentou problemas de aceitação e nos bastidores (com a saída do protagonista Fábio Assunção antes do meio da novela), a proposta de Edmara Barbosa, filha de Benedito e responsável pelo texto da nova versão com a colaboração de sua irmã Edilene, é uma viagem ao interior do país para contar a história do amor do filho do Diabo por uma santinha.
O tal "filho do Diabo" é José Eleutério (Eriberto Leão), filho do Coronel Eleutério (Reginaldo Faria), rapaz que fora estudar no Rio de Janeiro, mas depois de formado voltou à vida de peão, de que realmente gosta. A "Santinha" é Maria Rita (Nathália Dill), filha de Antero (Mauro Mendonça) e Mariana (Cássia Kiss), beata fanática que prometera a filha a Santa Rita quando de seu nascimento e fomenta o mito de que a moça é santa, capaz de operar milagres. O apelido de José Eleutério/Zeca é "filho do Diabo" graças a outra lenda, esta criada por seu pai, que reza que o garoto só foi concebido depois de ele ter aprisionado um diabinho numa garrafa - o "cramulhão". Ao redor dos dois jovens, dos mitos que os cercam e sua história de amor na pacata cidade de Paraíso, que dá nome à história, é que tudo se desenrola.
Comparando-se as duas versões, uma diferença notável está na narrativa, que hoje é mais "caipira" que ontem. Talvez isso seja reflexo do sucesso da reprise de Pantanal, também de Benedito, recentemente no SBT; numa tentativa de chamar a atenção do público da reprise, a nova Paraíso "interiorizou" o formato.
Na versão original da história, o casal protagonista era Kadu Moliterno e Cristina Mullins - no ar na reprise de Senhora do Destino como Aurélia, filha de Clementina (Mirian Pires) e mãe de Políbio/Shao Lin (Leonardo Miggiorin). Kadu está presente no remake na pele do italiano Bertoni, dono do bar em que os habitantes se reúnem para a fofoca de todo dia e um jogo de snooker. Além dele, Bia Seidl e Cosme dos Santos também participaram da novela de 1982. No elenco, ainda, as presenças de Soraya Ravenle, Carlos Vereza, Leopoldo Pacheco, Vanessa Giácomo, Alexandre Nero, Fernanda Paes Leme, Guilherme Berenguer, Guilherme Winter, Juliana Boller, Alexandre Rodrigues, Lidi Lisboa, Walderez de Barros, entre outros, mais o cantor Daniel, estreando em novelas na pele do peão Zé Camilo, personagem equivalente ao de Sérgio Reis na primeira versão.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Coleção traz adaptações de telenovelas clássicas em formato de bolso

Em 2007, a Editora Globo lançou Selva de Pedra, escrito por Mauro Alencar a partir da telenovela de Janete Clair exibida em 1972/73, o primeiro volume da Coleção Grandes Novelas, que consiste em adaptações de novelas famosas em formato de livro de bolso.
Depois de mais de um ano, no final de 2008 foram lançados de uma tacada só outros quatro livrinhos, com as adaptações de O Bem-amado (Dias Gomes, 1973), Pecado Capital (Janete, 1975/76), Roque Santeiro (Dias, 1985/86) e Vale Tudo (Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, 1988). A exemplo do primeiro, os lançamentos recentes também são assinados por Alencar.
A curiosidade é que, ao que consta, só é possível adquirir os livros através das revendedoras Avon. Os volumes da Coleção não são encontrados em livrarias, em bancas de jornal e sequer na relação de publicações da Editora Globo em seu site. Cada livro tem cerca de 220 páginas e custa R$ 9,99, mas na compra de dois cada um sai por R$ 7,99. Uma boa pedida para noveleiros de plantão, tenham ou não acompanhado as referidas histórias quando de sua exibição.
Agora, é torcer para que sejam lançados outros títulos, como por exemplo Pai Herói, O Astro, Que Rei Sou Eu?, Rainha da Sucata, Água Viva, Guerra dos Sexos, Baila Comigo, O Espigão...

domingo, 18 de janeiro de 2009

Vale a Pena Ver de Novo - II

Segue a lista das atrações do Vale a Pena Ver de Novo, de sua criação em 1980 até os dias de hoje:
- Dona Xepa (1977, 18h) - de Gilberto Braga; direção de Herval Rossano - de maio a novembro de 1980;
- A Sucessora (1978/79, 18h) - de Manoel Carlos; direção de Herval Rossano - de novembro de 1980 a abril de 1981;
- Te Contei? (1978, 19h) - de Cassiano Gabus Mendes; direção de Régis Cardoso - de abril a novembro de 1981;
- Cabocla (1.ª versão, 1979, 18h) - de Benedito Ruy Barbosa; direção de Herval Rossano - de novembro de 1981 a março de 1982;
- Marron Glacé (1979/80, 19h) - de Cassiano Gabus Mendes; direção de Gracindo Júnior e Gonzaga Blota - de março a agosto de 1982;
- As Três Marias (1980/81, 18h) - de Wilson Rocha, escrita por Wilson e Walter Negrão; direção de Herval Rossano - de agosto a outubro de 1982;
- A Moreninha (1975/76, 18h) - de Marcos Rey; direção de Herval Rossano - de outubro a dezembro de 1982;
- Plumas e Paetês (1980/81, 19h) - de Cassiano Gabus Mendes, escrita por Cassiano e Sílvio de Abreu - de janeiro a setembro de 1983;
- Pecado Rasgado (1978/79, 19h) - de Sílvio de Abreu; direção de Régis Cardoso - de setembro de 1983 a fevereiro de 1984;
- Água Viva (1980, 20h) - de Gilberto Braga; direção de Roberto Talma e Paulo Ubiratan - de fevereiro a setembro de 1984;
- Final Feliz (1982/83, 19h) - de Ivani Ribeiro; direção de Paulo Ubiratan - de setembro de 1984 a fevereiro de 1985;
- Elas por Elas (1982, 19h) - de Cassiano Gabus Mendes; direção de Paulo Ubiratan - de fevereiro a julho de 1985;
- Jogo da Vida (1981/82, 19h) - de Sílvio de Abreu; direção de Roberto Talma - de julho de 1985 a janeiro de 1986;
- Feijão Maravilha (1979, 19h) - de Bráulio Pedroso; direção de Paulo Ubiratan - de janeiro a abri de 1986;
- Paraíso (1.ª versão, 1982/83, 18h) - de Benedito Ruy Barbosa; direção de Gonzaga Blota - de abril a outubro de 1986;
- Livre para Voar (1984/85, 18h) - de Walter Negrão; direção de Wolf Maya e Fred Confalonieri - de outubro de 1986 a abril de 1987;
- Vereda Tropical (1984/85) - de Carlos Lombardi com argumento e supervisão de Sílvio de Abreu; direção de Jorge Fernando e Guel Arraes - de abril a outubro de 1987;
- Amor com Amor se Paga (1984, 18h) - de Ivani Ribeiro; direção de Gonzaga Blota - de outubro de 1987 a abril de 1988;
- Ti-ti-ti (1985/86, 19h) - de Cassiano Gabus Mendes; direção de Wolf Maya e Fred Confalonieri - de abril a outubro de 1988;
- Gabriela (1975, 22h) - de Walter George Durst; direção de Walter Avancini - de outubro de 1988 a fevereiro de 1989;
- A Gata Comeu (1985, 18h) - de Ivani Ribeiro; direção de Herval Rossano - de fevereiro a julho de 1989;
- Brega & Chique (1987, 19h) - de Cassiano Gabus Mendes; direção de Jorge Fernando - de julho de 1989 a janeiro de 1990;
- Pão, Pão, Beijo, Beijo (1983, 18h) - de Walter Negrão; direção de Gonzaga Blota - de janeiro a maio de 1990;
- Roda de Fogo (1986/87, 20h) - de Lauro César Muniz; direção de Dênis Carvalho - de maio a julho de 1990;
- Sassaricando (1987/88, 19h) - de Sílvio de Abreu; direção de Cecil Thiré - de julho de 1990 a janeiro de 1991;
- Top Model (1989/90, 19h) - de Walter Negrão e Antonio Calmon; direção de Roberto Talma - de janeiro a julho de 1991;
- Riacho Doce (1990, 22h30) - minissérie de Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretzsohn; direção de Paulo Ubiratan - de abril a maio de 1991;
- O Pagador de Promessas (1988, 22h30) - minissérie de Dias Gomes; direção de Tizuka Yamasaki - maio a junho de 1991;
- O Tempo e o Vento (1985, 22h30) - minissérie de Doc Comparato; direção de Paulo José - junho de 1991;
- Lampião e Maria Bonita (1982, 22h30) - minissérie de Aguinaldo Silva e Doc Comparato; direção de Paulo Afonso Grisolli - junho de 1991;
- Cambalacho (1986, 19h) - de Sílvio de Abreu; direção de Jorge Fernando - de julho a dezembro de 1991;
- Fera Radical (1988, 18h) - de Walter Negrão; direção de Gonzaga Blota - de dezembro de 1991 a maio de 1992;
- Vale Tudo (1988/89, 20h) - de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères; direção de Dênis Carvalho - de maio a setembro de 1992;
- Bebê a Bordo (1988/89, 19h) - de Carlos Lombardi; direção de Roberto Talma - de setembro de 1992 a março de 1993;
- Sinhá-Moça (1.ª versão, 1986, 18h) - de Benedito Ruy Barbosa; direção de Reynaldo Boury - de março a julho de 1993;
- Barriga de Aluguel (1990/91, 18h) - de Glória Perez; direção de Wolf Maya - de julho a novembro de 1993;
- Direito de Amar (1987, 18h) - de Walter Negrão; direção de Jayme Monjardim - de novembro de 1993 a fevereiro de 1994;
- Rainha da Sucata (1990, 20h) - de Sílvio de Abreu; direção de Jorge Fernando - de fevereiro a setembro de 1994;
- Tieta (1989/90, 20h) - de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares; direção de Paulo Ubiratan - de setembro de 1994 a abril de 1995;
- Pedra Sobre Pedra (1992, 20h) - de Aguinaldo Silva; direção de Paulo Ubiratan - de abril a agosto de 1995;
- Renascer (1993, 20h) - de Benedito Ruy Barbosa; direção de Luiz Fernando Carvalho - de agosto de 1995 a março de 1996;
- Despedida de Solteiro (1992/93, 18h) - de Walter Negrão; direção de Reynaldo Boury - de março a agosto de 1996;
- Meu Bem, Meu Mal (1990/91, 20h) - de Cassiano Gabus Mendes; direção de Paulo Ubiratan - de agosto a novembro de 1996;
- Mulheres de Areia (2.ª versão, 1993, 18h) - de Ivani Ribeiro; direção de Wolf Maya - de novembro de 1996 a abril de 1997;
- A Viagem (2.ª versão, 1994, 19h) - de Ivani Ribeiro; direção de Wolf Maya - de abril a setembro de 1997;
- Fera Ferida (1993/94, 20h) - de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares; direção de Dênis Carvalho e Marcos Paulo - de setembro de 1997 a fevereiro de 1998;
- Felicidade (1991/92, 18h) - de Manoel Carlos; direção de Denise Saraceni - de fevereiro a abril de 1998;
- O Salvador da Pátria (1989, 20h) - de Lauro César Muniz; direção de Paulo Ubiratan e Gonzaga Blota - de abril a agosto de 1998;
- Quatro por Quatro (1994/95, 19h) - de Carlos Lombardi; direção de Ricardo Waddington - de agosto de 1998 a março de 1999;
- O Rei do Gado (1996/97, 20h) - de Benedito Ruy Barbosa; direção de Luiz Fernando Carvalho - de março a agosto de 1999;
- A Indomada (1997, 20h) - de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares; direção de Marcos Paulo - de agosto de 1999 a março de 2000;
- Tropicaliente (1994, 18h) - de Walter Negrão; direção de Gonzaga Blota - de março a julho de 2000;
- A Próxima Vítima (1995, 20h) - de Sílvio de Abreu; direção de Jorge Fernando - de julho a dezembro de 2000;
- Roque Santeiro (1985/86, 20h) - de Dias Gomes; direção de Paulo Ubiratan e Gonzaga Blota - de dezembro de 2000 a junho de 2001;
- Você Decide (1992/2000) - vários autores e diretores - julho de 2001;
- A Gata Comeu (1985, 18h) - de Ivani Ribeiro; direção de Herval Rossano - julho a dezembro de 2001;
- História de Amor (1995/96, 18h) - de Manoel Carlos; direção de Ricardo Waddington - de dezembro de 2001 a junho de 2002;
- Por Amor (1997/98, 20h) - de Manoel Carlos; direção de Ricardo Waddington - de julho de 2002 a janeiro de 2003;
- O Cravo e a Rosa (2000/01, 18h) - de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira; direção de Walter Avancini e Mário Márcio Bandarra - de janeiro a agosto de 2003;
- Anjo Mau (2.ª versão, 1997/98, 18h) - de Maria Adelaide Amaral com base no original de Cassiano Gabus Mendes; direção de Denise Saraceni - de agosto de 2003 a janeiro de 2004;
- Corpo Dourado (1998, 19h) - de Antonio Calmon; direção de Flávio Colatrello Jr. e Marcos Schechtman - de janeiro a junho de 2004;
- Terra Nostra (1999/2000, 20h) - de Benedito Ruy Barbosa; direção de Jayme Monjardim - de junho a novembro de 2004;
- Deus nos Acuda (1992/93, 19h) - de Sílvio de Abreu; direção de Jorge Fernando - de novembro de 2004 a fevereiro de 2005;
- Laços de Família (2000/01, 20h) - de Manoel Carlos; direção de Ricardo Waddington, Rogério Gomes e José Luiz Villamarim - de fevereiro a setembro de 2005;
- Força de um Desejo (1999/2000, 18h) - de Gilberto Braga e Alcides Nogueira; direção de Marcos Paulo e Mauro Mendonça Filho - de setembro de 2005 a fevereiro de 2006;
- A Viagem (2.ª versão, 1994, 19h) - de Ivani Ribeiro; direção de Wolf Maya - de fevereiro a julho de 2006;
- Chocolate com Pimenta (2003/04, 18h) - de Walcyr Carrasco; direção de Jorge Fernando - de julho de 2006 a janeiro de 2007;
- Era uma Vez... (1998, 18h) - de Walter Negrão; direção de Jorge Fernando - de janeiro a maio de 2007;
- Da Cor do Pecado (2004, 19h) - de João Emanuel Carneiro; direção de Denise Saraceni - de maio a novembro de 2007;
- Coração de Estudante (2002, 18h) - de Emanuel Jacobina; direção de Ricardo Waddington - de novembro de 2007 a abril de 2008;
- Cabocla (2.ª versão, 2004, 18h) - de Benedito Ruy Barbosa; direção de José Luiz Villamarim e Rogério Gomes - de abril a agosto de 2008;
- Mulheres Apaixonadas (2003, 20h) - de Manoel Carlos; direção de Ricardo Waddington, Rogério Gomes e José Luiz Villamarim - de setembro de 2008 a março de 2009;
- Senhora do Destino (2004/05, 20h) - de Aguinaldo Silva; direção de Wolf Maya - de março a agosto de 2009;
- Alma Gêmea (2005/06, 18h) - de Walcyr Carrasco; direção de Jorge Fernando - de agosto de 2009 a março de 2010;
- Sinhá-Moça (2006, 18h) - de Benedito Ruy Barbosa; direção de Ricardo Waddington e Rogério Gomes - de março a setembro de 2010;
- Sete Pecados (2007/08, 19h) - de Walcyr Carrasco; direção de Jorge Fernando - de setembro de 2010 a janeiro de 2011;
- O Clone (2001/02, 20h) - de Glória Perez; direção de Jayme Monjardim - a partir de janeiro de 2011.

Vale a Pena Ver de Novo

Pouco depois da hora do almoço (ou mesmo nesta, para alguns), basta que se ouça o prefixo musical inconfundível para que se saiba: está no ar o Vale a Pena Ver de Novo, sessão de reprises de novelas que a Rede Globo exibe nas tardes desde 1980. Antes disso, a emissora já reprisava novelas à tarde, mas não havia "formalmente" um título para a faixa de programação, a exemplo de Sessão da Tarde, entre outros.
A primeira novela reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, a partir do dia 5 de maio de 1980, foi Dona Xepa, escrita por Gilberto Braga com base na peça teatral de Pedro Bloch. Tendo nos papéis principais Yara Cortes, Nívea Maria, Reynaldo Gonzaga, Rubens de Falco e Cláudio Cavalcanti, foi dirigida por Herval Rossano e exibida originalmente às 18h em 1977. A reprise, inicialmente exibida no final da tarde, mas logo transferida para as 13h45, ficou no ar até 14 de novembro. No início da tarde, começando sempre entre 13h30 e 13h45, o programa ficou até os anos 90, quando passou entrar no ar depois das 14h.
Muitas pessoas reclamam que leva muito pouco tempo para que a emissora decida reestrear uma novela à tarde, sem que seja possível ao menos "esquecer" dos personagens e das histórias. Essa não é uma prática recente, é antes uma regra que uma exceção em se tratando de Vale a Pena Ver de Novo. Não há um padrão identificável - autores e atores estarem ou não com novelas no ar, o tempo em relação à primeira exibição, nada disso. Tampouco o sucesso alcançado pela novela da primeira vez é parâmetro, porque ao longo desses quase trinta anos já houve reprises de histórias consideradas não tão bem-sucedidas assim na primeira ocasião, como a excelente Força de um Desejo, de Gilberto Braga e Alcides Nogueira (1999/2000), apresentada com sucesso no Vale a Pena Ver de Novo em 2005/06.
Na primeira década da sessão no ar, praticamente só foram reprisadas novelas originalmente exibidas às 18h ou 19h. Isso se deve à situação do país na época - sob ditadura que impunha censura prévia e classificação indicativa, as novelas das 20h não eram liberadas para reprises à tarde. Só em 1984 é que isso ocorreria: Água Viva, de Gilberto Braga (1980), foi a primeira. Todavia, depois dela apenas em 1990, com Roda de Fogo, de Lauro César Muniz (1986/87), é que as novelas das 20h voltariam ao Vale a Pena Ver de Novo e seriam mais constantes na faixa. Ainda, só uma novela exibida originalmente às 22h foi reprisada na sessão: Gabriela, de Walter George Durst, baseada na obra de Jorge Amado. Produzida em 1975, foi reprisada entre 1988 e 1989.
Como dito acima, o tempo entre a exibição original de uma novela e sua eventual reprise não é fator determinante para a escolha das atrações da sessão, ou seja, não há uma média de tempo para que uma novela seja reprisada ou não. Tanto pode demorar mais de dez anos, como foi o caso de Deus nos Acuda, de Sílvio de Abreu (1992/93), que voltou em 2004, como reestrear praticamente assim que termina à noite, a exemplo de Top Model, de Walter Negrão e Antonio Calmon. No ar de setembro de 1989 a maio de 1990, em janeiro de 1991 já estava no ar à tarde.
Há outros casos de retornos precoces: Livre para Voar (1984/85), outra de Negrão, voltou à tarde em outubro de 1986. Final Feliz (1982/83), de Ivani Ribeiro, pôde ser revista a partir de setembro de 1984. Em ambos os casos, a volta à tarde deu-se um ano e meio depois da exibição do último capítulo à noite.
Algumas novelas, quando reprisadas na faixa, já tinham sido reprisadas antes, por isso não contam para uma classificação das que demoraram mais tempo para voltar. Por exemplo, Roque Santeiro, de Dias Gomes (1985/86), que entrou no ar no Vale a Pena Ver de Novo apenas em dezembro de 2000, já tinha sido reprisada às 17h em 1991. A Gata Comeu (1985) e A Viagem (1994), ambas de Ivani Ribeiro, são as duas únicas novelas até agora reprisadas duas vezes na sessão. A primeira teve reprise em 1989 e em 2001, ao passo que a segunda foi exibida à tarde em 1997 e novamente em 2006. Enquanto isso, curiosamente, grandes sucessos como Escrava Isaura, escrita por Gilberto Braga a partir do romance de Bernardo Guimarães (1976/77); Louco Amor (1983), também de Braga; Pai Herói, de Janete Clair (1979); e Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes (1989) não foram até hoje reprisados no Vale a Pena Ver de Novo.
Há ainda os casos de novelas cujas reprises foram anunciadas para o Vale a Pena Ver de Novo, em especial na imprensa escrita, mas que na última hora foram substituídas por outras e adiadas, ou mesmo não mais voltaram às cogitações. Em 1986, um repeteco de Baila Comigo, de Manoel Carlos (1981), substituiria Jogo da Vida, de Sílvio de Abreu (1981/82), mas o que acabou vindo foi Feijão Maravilha, de Bráulio Pedroso (1979). Elas por Elas, de Cassiano Gabus Mendes (1982) chegou a ter chamadas no ar em 1984, mas o que entrou foi Final Feliz; apenas depois desta novela foi que o detetive Mário Fofoca (Luís Gustavo) voltou ao ar à tarde. Outro caso semelhante foi o de Sassaricando, mais uma de Sílvio, inicialmente anunciada para janeiro de 1990, mas que voltou só em julho.
Até agora, a novela que permaneceu por mais tempo em cartaz na sessão foi Plumas e Paetês, outra de Cassiano (1980/81), que esteve no ar à tarde de janeiro a setembro de 1983. As menores reprises, respectivamente com sete e oito semanas de duração apenas, foram as de Roda de Fogo e As Três Marias (1980/81), escrita por Wilson Rocha e Walter Negrão com base no romance de Rachel de Queiroz, em 1982 - cujo retorno demorou ainda menos para ocorrer que os de Final Feliz e Livre para Voar.
Mas nem só de novelas viveu a faixa. Em 1991, de abril a junho, o Vale a Pena Ver de Novo tinha sessão dupla. Além da reprise de Top Model, foram reapresentadas nesse período quatro minisséries: Riacho Doce, de Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretzsohn com base no romance de José Lins do Rêgo (1990); O Pagador de Promessas, de Dias Gomes com base em sua peça teatral (1988); as histórias de Ana Terra (Glória Pires) e do Capitão Rodrigo (Tarcísio Meira) em O Tempo e o Vento, de Doc Comparato a partir da obra de Érico Veríssimo (1985); e Lampião e Maria Bonita, de Aguinaldo e Doc (1982), a primeira das minisséries brasileiras. Ainda, em 2001 foram ao ar no programa quinze episódios do interativo Você Decide (1992/2000), mas logo voltaram as novelas.
Nesses quase 29 anos de Vale a Pena Ver de Novo, o autor com mais novelas reprisadas foi Walter Negrão. Desconsiderando casos em que o novelista participou da equipe, mas não esteve desde o começo dos trabalhos, como As Três Marias, foram oito títulos: Livre para Voar; Pão, Pão, Beijo, Beijo (1983) em 1990; Direito de Amar (1987) em 1993/94; Fera Radical (1988) em 1991/92; Despedida de Solteiro (1992/93) em 1996; Tropicaliente (1994) em 2000; Era uma Vez... (1998) em 2007; e Top Model, junto com Antonio Calmon. O segundo lugar traz um empate entre Benedito Ruy Barbosa e Cassiano Gabus Mendes, cada um com sete novelas reprisadas.
O atual cartaz da sessão é Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos (2003), desde o dia 1.º de setembro. Já foi divulgada uma liberação pelo Ministério Público de Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva (2004/05), para o horário da tarde, mas ainda não há confirmação oficial de que a novela vá ser a substituta de Mulheres Apaixonadas.

Duas décadas depois, a pátria ainda pede um salvador

O ano era 1989. Em 9 de janeiro, a Rede Globo estreava no horário nobre uma novela cujo título já deixava clara a preocupação do autor Lauro César Muniz: O Salvador da Pátria pretendia, ainda que não fosse essa sua meta principal, fazer o público pensar a respeito do momento que o país vivia, quando teríamos uma eleição presidencial direta depois de quase 30 anos sem que isso fosse possível.
Salvador da Silva (Lima Duarte), o Sassá Mutema, era um bóia-fria que morava na fazenda do deputado federal Severo Toledo Blanco (Francisco Cuoco), dono de uma fábrica de suco de laranja. Severo, embora casado com Gilda (Susana Vieira) e pai de Sérgio (Maurício Mattar) e Rafaela (Narjara Turetta), tinha uma amante, a jovem Marlene (Tássia Camargo). O relacionamento extraconjugal, embora prazeroso e divertido, pode causar-lhe complicações na carreira política, e o pai da moça, Sebastião Machado (Paulo César Pereio), cobra do político uma solução para a situação da filha. Assim, depois de pensar no assunto, Severo resolve casar Sassá e Marlene, tornando-a uma “mulher de respeito”, apagando as possibilidades do adultério vir à tona e prometendo continuar a manter-lhe – e, claro, sem deixar de ter encontros amorosos com ela.
A armação é descoberta por Juca Pirama (Luís Gustavo), radialista inescrupuloso que tem um programa de grande audiência na Rádio Clube de Tangará, a cidade mais próxima dos acontecimentos. Pelo que fala em seu programa e por seus métodos nada ortodoxos de obter o que deseja, Juca tem diversos inimigos, como a fazendeira Marina Sintra (Betty Faria), rival política de Severo na região. Logo, Juca e Marlene aparecem mortos, a tiros, e Sassá é o principal suspeito do crime. Com a ajuda da professora Clotilde (Maitê Proença), que chega à cidade para dar aulas aos trabalhadores rurais e por quem se apaixona, Sassá consegue provar sua inocência, conhece as letras e torna-se prefeito da cidade.
Mas a eleição de Sassá faz parte de um plano maior, chefiado por uma organização de tráfico de entorpecentes cujo chefe só se descobre no final da novela. Graças à popularidade conquistada depois de provar ser inocente, Sassá é o alvo preferido dos poderosos locais, tenham ou não relações com os bandidos. Mesmo apoiado pelos caciques da região, ao chegar ao poder Sassá se rebela contra eles e não satisfaz pura e simplesmente suas vontades, o que compromete os interesses de todos.
Juca Pirama, que dizia-se defensor da moral e dos bons costumes, era na verdade um braço da organização na região, tendo feito o próprio irmão João Mattos (José Wilker) ser preso com um carregamento de cocaína no avião que pilotava. A própria organização ajuda João a fugir da prisão e dá-lhe uma nova identidade, Miro Ferraz, para que ele colabore com seus planos. Ele, mesmo casado com Ângela (Lucinha Lins), envolve-se com a viúva Marina.
A partir de Sassá, a novela traçava uma grande intriga policial e política, envolvendo a todos. Além dos já citados, havia Bárbara Souza Telles (Lúcia Veríssimo), neta do rico banqueiro Hermínio (Benjamin Cattan) e nova amante de Severo; Lauro Brancatto (Cecil Thiré), médico apaixonado por Marina e que é lançado candidato a prefeito por seu partido, sendo rival de Sassá nas eleições; Joaquim Xavier, o Quinzote (Mário Lago), ex-prefeito de Tangará que vive hoje em meio a suas lembranças, já um pouco caduco; o advogado Cássio Marins (Thales Pan Chacon), advogado de Sassá; o delegado Plínio Kohl (Antônio Grassi) e os correligionários de Severo e Marina, como Décio (Nelson Dantas) e Nilo (Flávio Migliaccio).
Até o assassinato de Juca e Marlene, ocorrido no capítulo 17, Lauro e seu colaborador Alcides Nogueira apresentaram uma novela de trama amarrada, inteligente, empolgante. Depois disso, o excesso de personagens e a censura interna da emissora fizeram com que O Salvador da Pátria patinasse um pouco. O autor, que partiu de O Crime do Zé Bigorna, história que escreveu em 1974 para o programa Caso Especial e que virou filme em 1977 com direção de Anselmo Duarte, disse que houve influência direta de Brasília junto à Rede Globo para que fizesse algo, já que a novela era vista como uma apologia à candidatura do líder sindical Luís Inácio Lula da Silva à presidência. Assim, a saída encontrada pelos autores foi transferir o foco da ação do lado político para o policial, com as ações da organização de tráfico de drogas caminhando junto da administração de Sassá na prefeitura. Lauro César Muniz disse que chegou a ouvir nos bastidores coisas como “O autor dessa novela vai eleger o próximo presidente do Brasil”. A intenção era, fazendo jus ao título, eleger Sassá presidente da República, mas não foi possível. Enquanto isso, na vida real o Brasil elegeu Fernando Collor, passaram-se duas décadas e ainda hoje esperamos pelo salvador da pátria.
A certa altura da novela, Juca Pirama “voltou”, com sua voz podendo ser novamente ouvida através de uma freqüência pirata. Mas Luís Gustavo não voltou a aparecer na novela; um dublê chegou a ser focalizado algumas vezes em cenas de suspense. A “volta” de Juca fazia parte de um plano de Bárbara, que ao final revela-se chefe do grupo de bandidos.
José Wilker retornava à Rede Globo depois de trabalhar como ator e diretor do departamento de teledramaturgia da Rede Manchete. Maitê Proença também esteve na emissora de Adolpho Bloch na mesma época, mas tinha voltado à Globo antes de Wilker, tendo atuado em Sassaricando, de Sílvio de Abreu (1987/88), meses antes de ser a professorinha Clotilde.
Na trilha sonora, vale destacar “Bem que se Quis” (Marisa Monte), tema de Severo e Bárbara; “Ciranda do Sassá” (Cláudio Nucci); “Tá na Terra” (João Caetano); a bela “Horizontes” (A Cor do Som), que pontuava as cenas de João querendo provar sua inocência na acusação de tráfico de drogas; “Deus te Proteja de Mim” (Wando), tema de seu romance com Marina; “One Moment in Time” (Whitney Houston), o tema de Gilda, a mulher que fazia de tudo para manter o casamento; e “Domino Dancing” (Pet Shop Boys), que tocava com os jovens da novela.
Em outros países, a novela ganhou o título Sassá Mutema, que seria utilizado por aqui também, não fosse a vontade de Lauro de chamar sua história de O Salvador da Pátria. Um grande destaque na carreira de Lima Duarte, inesquecível na pele do colhedor de laranjas em sua trajetória do nada ao entendimento.
Dirigida por Paulo Ubiratan, Gonzaga Blota, José Carlos Pieri e Denise Saraceni, a novela terminou em 11 de agosto de 1989 e ganhou uma reprise compacta na sessão Vale a Pena Ver de Novo em 1998, de 27 de abril a 28 de agosto. O trabalho seguinte do autor seria, em parceria com Dias Gomes e Ferreira Gullar, Araponga, a história colocada no ar pela emissora para tentar conter o sucesso de Pantanal na Rede Manchete. Mas essa já é uma outra história...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Adriano Reys: "O Dr. Prado é um personagem fascinante"

Amigos, posto uma entrevista de Adriano publicada na revista Amiga em junho de 1981, época em que Ciranda de Pedra estava em cartaz em sua primeira versão. Espero que gostem.
Adriano Reys: “O Dr. Prado é um personagem fascinante”
Alinhado, elegante em seu terno azul-marinho, cabelos bem penteados, econômico em sorrisos e empertigado nas posições diante da vida. Vencedor ou perdedor? Só ele mesmo sabe. A imagem exterior pode ser um esconderijo, um subterfúgio, para seus verdadeiros sentimentos. Assim é Prado, personagem de Ciranda de Pedra – novela de Teixeira Filho, baseada no romance de Lygia Fagundes Telles, apresentada na Rede Globo. Com exceção da aparência física, em nada o ator Adriano Reys se parece com o personagem Prado. Seus sorrisos são pródigos, simpático ao primeiro contato, falante, sem ser falastrão. De gestos tranqüilos, revelando calma, reflexo do tipo de vida que leva. Caseiro por excelência, muito ligado à família, mesmo estando na luta há mais de 25 anos. Com Ciranda de Pedra, através de Prado, Adriano Reys volta a trabalhar no Rio de Janeiro, de onde esteve afastado por muito tempo. É com entusiasmo que fala de seu personagem na novela.
“O Prado é fascinante”, afirma Adriano. “Um personagem riquíssimo, com um armazenamento psicológico, problemático, enorme. Maravilhoso. Pode ser, por etapas, odiado pelo telespectador, como também amado. Acho que representa na carreira de um ator um daqueles personagens que formam a galeria de ótimos papéis. Porque existem, na vida dos atores, personagens definitivos. Não que sejam únicos, mas representam aquela galeria do andar superior. Não é apenas mais um trabalho. É um trabalho! Sei que agora, no momento em que conversamos, o Prado deve estar sendo odiado pelas donas-de-casa, pelas mães. Embora tenha procurado dosá-lo com um certo charme, um certo envolvimento, uma certa dúvida. Não defino muito bem o que o levou a ser assim. Por trás, fica sempre a idéia de que deve existir alguma razão pra ele agir dessa maneira. Sei que, mais adiante, os telespectadores poderão se apaixonar por ele.”Para chegar à composição ideal de Prado, Adriano imaginou o que seria a vida anterior do personagem até o momento em que se inicia a narrativa de Ciranda de Pedra. Um recurso utilizado, normalmente, para o melhor desempenho de seu trabalho, permitindo juntar subsídios que ajudarão no desenrolar da trama.
“Na criação de um personagem – continua Adriano –, toma-se por base o comportamento atual, fazendo uma análise do que teria sido o passado daquela pessoa. Fiz um estudo do que seria o Prado na sua infância. É construir o personagem partindo do princípio de que ele é gente, um ser humano. Vejo o Prado como um sujeito cercado de um envolvimento familiar, um tradicionalismo, com facilidades para conseguir as coisas. Inclusive os valores, sejam eles externos ou internos. Um dia, encontrou uma mulher, Laura, e gostou. De um mundo completamente diferente do dele, mas Prado se apaixonou. Sempre com tudo sob controle, tentou controlá-la também, a seu jeito, e viu que o choque das personalidades era alto demais. Surgiram os conflitos e, logicamente, por parte de Laura, a decepção. Ela, desiludida, partiu para um outro tipo de vida. E Prado não se perdoou jamais. Por ser como é e agir da forma que age. Na verdade, é um apaixonado pela esposa, revoltado pela derrota de seu relacionamento com Laura.”A grande maioria dos personagens de Adriano Reys, segundo ele mesmo, é muito próxima de Prado. Um homem envolvente, mesmo que sem escrúpulos. O cínico-simpático resume bem essas características.“Para simplificar a minha carreira – afirma Adriano – costumo dizer que os meus personagens sempre estiveram dentro da linha cínico-simpático. Sem esquecer também o bonzinho. Sou, por natureza, romântico. E, ao ser romântico, tenho uma tendência a ser bom nas minhas inflexões, no meu modo de dizer, nas minhas intenções. Transmito com mais facilidade essa minha verdade. Agora, quando você opta por um trabalho de construção, como é o caso do Prado, já vai exigir um outro tipo de comportamento. Gosto de fazer aquilo que me enriquece mais o trabalho. Tenho uma forma, uma característica de fazer o cínico sempre de um modo bastante atraente e absorvente para o público. Ele fica mais rico, não é uma coisa grifada, envolvente. Deixa o espectador na dúvida se gosta ou não gosta, se torce ou não torce, se é a favor ou contra.
Seja charlatão ou vigarista, procuro envolver o personagem com muito charme, muita elegância, muito romantismo. Olha, uma definição perfeita para a forma com que construo os meus personagens pode ser encontrada em grande número de trabalhos de Louis Jourdan, onde, no final da história, há sempre uma reversão da expectativa: o bandido que, na verdade, era o bonzinho, ou o contrário.”Essa característica dominante de seus personagens acompanha Adriano Reys, desde o início de sua carreira, em 1956, na peça Cherri, da Companhia dos Artistas Unidos, depois de vencer um concurso para a escolha de um ator para o papel. Nesse momento, ele optou pela arte de interpretar. E deixou de lado, definitivamente, o economista formado, com apenas uma experiência em cinema, no filme Os Três Recrutas, ao lado de José Lewgoy, Colé, Ankito e Mirian Tereza, em 1955.“Depois do filme – continua Adriano –, no teste para a dublagem, o diretor me disse: ‘Você não pude dublar, porque não tem voz’. Aquilo me traumatizou violentamente, achei que era uma deficiência muito grande. Me senti um aleijadão. Resolvi fazer um curso de vocalização e comecei a me envolver com gente de teatro e a me apaixonar pela arte de representar. Até que fiquei sabendo do concurso para a peça Cherri. Me candidatei meio de farra, atendendo ao incentivo dos amigos. Fiz o teste, ganhei e estou aqui até hoje.”
Não seria exagero dizer que o Dr. Prado de Ciranda de Pedra foi o melhor papel de Adriano Reys na televisão, mas ele teve também personagens de destaque em novelas como O Direito de Nascer (1978/79), A Viagem (1975/76), O Julgamento (1976/77), Os Inocentes (1974), Como Salvar meu Casamento (1979/80), Vale Tudo (1988) e Barriga de Aluguel (1990/91), entre outras. Fica aqui a minha singela homenagem a este ator de quem sinto falta nas telenovelas.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Na torcida pelo xará

Divulgou-se ontem que o ator Fábio Assunção, intérprete de Heitor, um dos personagens principais da atual novela global das seis, Negócio da China, se afastará das gravações por tempo indeterminado devido a problemas de saúde. Não é meu intuito propor qualquer especulação em torno do que possa ter provocado os males por que Fábio vem passando, mas sim expor meus sinceros votos de uma recuperação plena e o mais rápido possível.
A saída de Fábio da novela de Miguel Falabella está prevista para o capítulo 47, no ar em 28 de novembro. Para fazer as vezes de Heitor no triângulo amoroso composto por Lívia (Grazi Massafera), João (Ricardo Pereira) e ele, surgirá na história um novo personagem, a ser interpretado por Thiago Lacerda. Thiago, lembramos, formou com Grazi o primeiro par romântico da ex-BBB em novelas, como Jorge e Thelminha em Páginas da Vida (2006/07), de Manoel Carlos.

sábado, 8 de novembro de 2008

Sonho de uns, saudade de outros

Falarei neste post de uma novela que gostaria muito de ter acompanhado, o que infelizmente acredito que nunca será possível. Os Ossos do Barão, de Jorge Andrade, foi ao ar pela Globo às dez da noite de 10 de outubro de 1973 a 31 março de 1974.
Em 1973, para substituir o sucesso O Bem-amado, de Dias Gomes, a Rede Globo decidiu prosseguir com as produções em cores para o horário de novelas das dez da noite. Conforme Walter Clark, um dos manda-chuvas da emissora na época, em sua biografia O Campeão de Audiência (Best Seller, 1991), seria um retrocesso, não faria sentido produzir outra novela em branco e preto para substituir a primeira produzida em cores.
Daniel Filho, então diretor geral do departamento de teledramaturgia global, escolheu Jorge Andrade, de sólida carreira no teatro, para escrever a novela que sucederia a O Bem-amado. Andrade partiu então para uma obra baseada em duas peças suas, A Escada e Os Ossos do Barão, que levaria o título desta última na versão televisiva. O diretor seria o mesmo da história de Dias Gomes: Régis Cardoso.
Para protagonizar a novela, foram escalados Odorico e Zeca Diabo, ou melhor, Paulo Gracindo e Lima Duarte. O primeiro passou de prefeito corrupto de Sucupira a velhinho caduco e saudoso de um passado de poder e glórias, com nome mais que pomposo: Antenor Camargo Parente de Redon Pompeo e Taques. O segundo, de cangaceiro arrependido a imigrante italiano que enriqueceu depois da crise do café, Egisto Ghirotto.
Egisto veio da Itália ainda menino, e cresceu como colono da fazenda do barão de Jaraguá, tendo enriquecido graças a economias bem investidas, aproveitando-se da explosão industrial em São Paulo. Hoje, pode vangloriar-se de possuir tudo que um dia foi do barão – inclusive os ossos, já que comprou sua cripta mortuária. O que mais desejava era obter um título de nobreza, deixar de ser visto como um carcamano ignorante e ser aceito pela sociedade. Isso é possível caso seu filho Martino (José Wilker) se case com a bisneta do barão de Jaraguá, Izabel (Dina Sfat).
Antenor, filho do barão, hoje é um senhor idoso e meio esclerosado, que ainda acredita ser de sua família tudo que não é mais, ignorando o fato de que os Parente de Redon Pompeo e Taques não são mais o que foram no passado. Casado com Melica (Carmem Silva), senhora doce e sensata, que sabe como lidar com os desvarios do marido. Os dois tiveram três filhos. Miguel (Leonardo Villar), o mais velho, casado com Verônica (Maria Luiza Castelli), pai de Izabel e Ricardo (João Carlos Barroso). Maria Clara (Neuza Amaral), viúva, mãe de duas filhas: Lourdes (Renata Sorrah) e Zilda (Sandra Bréa). Vicente (Edney Giovenazzi) era escritor e casado com Lavínia (Bibi Vogel), e a independência de sua mulher incomodava o tradicionalismo de seus parentes.
O casal de velhos passa temporadas em casa de cada um dos filhos e, como ninguém quer arcar com a responsabilidade de cuidar deles, todos entram no dilema de interná-los ou não num asilo.
Martino e Izabel começam a viver um romance tumultuado pelas circunstâncias em que surge e pelas diferenças de mentalidade e criação dos dois. Além deles, também formam-se os casais Lourdes e Luigi (José Augusto Branco) e Zilda e Jairo (Gracindo Júnior). Tanto Lourdes-Luigi quanto Zilda-Jairo sofrem com o mesmo problema: o preconceito. Luigi, por ser descendente de italianos, Jairo por ser mulato. As duas moças eram filhas de Maria Clara, portanto netas de Antenor e Melica.
Antenor gostava de passear por São Paulo, dizendo por onde passava que aquilo tudo era dele. Num desses passeios, conhece Egisto, e os dois tornam-se grandes amigos. O italiano apresenta-se com o nome de Fernão Dias, aludindo ao bandeirante, e com isso ganha a confiança do velho, que não imaginava que naquele paulista tão tradicional e puro estava um imigrante, um dos tantos que suplantaram a sua e tantas outras famílias quatrocentonas no quadro social.
Andrade aproveitou os temas centrais das duas peças. De A Escada, tirou a trama do casal de idosos cujos filhos não sabem o que fazer com eles e se decidem pelo asilo como a melhor solução; de Os Ossos do Barão, o sonho desvairado de um imigrante italiano de casar seu filho com a herdeira de uma família da aristocracia cafeeira paulista falida, para assim conseguir um título de nobreza.
A escalação de Lima Duarte para o papel de Egisto foi muito criticada pelos apaixonados da obra do autor, que desejavam ver na telenovela o mesmo intérprete que havia consagrado o personagem nos palcos, Otelo Zeloni. Crítica reforçada quando se sabe que Lélia Abramo, que viveu Bianca, mulher de Egisto, mantinha o papel na TV. Todavia, Zeloni não teria concluído a novela, uma vez que falecera em dezembro de 1973. Paulo Gracindo prosseguia brilhando na pele de Antenor, personagem completamente diferente de Odorico, porém tão bom quanto. Dina Sfat, por sua vez, se disse constrangida de interpretar na novela uma moça de 18 anos, tendo já 35 na época.
Numa época de trilhas compostas especialmente para as novelas, os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle compuseram a de Os Ossos do Barão, com destaque para “Qual É?”, cantada por um Djavan em início de carreira, e o tema de abertura com o mesmo nome da história e cantado por Marcos, cuja letra explicava a trama básica da novela: “Sei que tu tem nome / Que vale uma nota o teu sobrenome / Sei que tu ‘tá duro / Que deves uma nota, correção e juro / Eu não tenho nome / Não tenho tradição / Não tenho sobrenome / Mas tenho dinheiro / Dinheiro compra tudo / Compra o mundo inteiro”. A perfeita representação de Egisto, o italiano criado como colono da fazenda do barão de Jaraguá que fizera fortuna como industrial em São Paulo enquanto os aristocratas seguiram o caminho inverso, com a decadência do negócio de café. Enquanto isso, fazendeiros, oligarcas, vivendo em prédios de apartamentos em vez de grandes fazendas, mas conservando a pose, o orgulho e os preconceitos do passado. As chamadas da novela traziam uma frase emblemática, também explicativa: “A vida é uma escada. Uns descem para depois subir; outros sobem para descer amanhã.”
Destacam-se ainda na trilha da novela: “Meu Velho Pai” (Djalma Dias), “Chega de Enganar a Nega” (Betinho), “E Tem Mais” (Eustáquio Sena), “Tu Nella Mia Vita” (Wess & Dori Ghezzi), “Jungle Boogie” (Kool & The Gang), “You Make Me Fell Brand New” (The Stylistics) e “Love’s Theme” (Barry White & The Unlimited Orchestra). As duas últimas ressurgiriam na trilha de Celebridade, em 2003.
O autor aceitou escrever para a televisão, na contramão do pensamento dos intelectuais, que a consideravam um veículo menor, por compreender que através da televisão poderia transmitir para muito mais pessoas ao mesmo tempo a mensagem que transmitia no teatro, através de suas peças. Levando sua temática de transformação da sociedade, conflitos de gerações e da formação da sociedade paulista e brasileira, Jorge Andrade escreveu uma das melhores novelas de nossa televisão. Perfeita, crítica, densa, intelectualizada sem ser chata e sem sofrer com os “esticamentos” que podem comprometer um bom trabalho não acabado no momento certo.
Os Ossos do Barão teve 150 capítulos, cinco dos quais escritos por Bráulio Pedroso devido a males de saúde de Jorge Andrade. Em 1997, o SBT produziu uma nova versão da história, com adaptação de Walter George Durst e mescla com outra novela de Andrade: Ninho da Serpente (Bandeirantes, 1982). Tanto a da Bandeirantes quanto essa versão de Os Ossos... do SBT eu vi, e tenho saudade, mas delas falarei noutra oportunidade.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os habitantes de Southfork estão de volta na TV aberta

Às 23h30 do último sábado, a Rede TV! trouxe de volta à TV aberta a famigerada Dallas, criada por David Jacobs, uma das séries de maior sucesso em todo o mundo. Desde quando fora exibida pela Bandeirantes, entre o fim dos anos 80 e o início dos 90, a produção não era transmitida por aqui pela TV aberta, apenas em canais pagos como o falecido Teleuno (posteriormente AXN, salvo engano) e TCM.
Produzida entre 1978 e 1991, Dallas gira em torno dos milionários e poderosos Ewings, fazendeiros, criadores de gado e donos de uma empresa de extração e comércio de petróleo, a Ewing Oil. A família vive numa bela fazenda, Southfork, na região de Dallas, no Texas. Os patriarcas são Jock (Jim Davis) e Dona Ellie (Barbara Bel Geddes), pais de três filhos: o caçula Bobby (Patrick Duffy), o fraco filho do meio Gary (David Ackroyd) e o mais velho, o inescrupuloso J.R. (Larry Hagman, o Major Nelson de Jeannie É um Gênio), que manipula tudo e todos em sua luta constante por poder e dinheiro. O casamento de Bobby com a bela Pamela (Victoria Principal), filha de Digger Barnes (David Wayne), desafeto de Jock, é o ponto de partida para catorze temporadas de grande sucesso. Na década de 1980, ia ao ar aos domingos na Globo, depois dos Gols do Fantástico.
Para quem gosta de uma boa história contada em capítulos (apesar da estrutura de série, é um novelão e tanto), uma boa pedida. No TCM, os episódios são exibidos de segunda a sexta-feira às 13h, com reapresentação na manhã seguinte, às 8h.