segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Adriano Reys: "O Dr. Prado é um personagem fascinante"

Amigos, posto uma entrevista de Adriano publicada na revista Amiga em junho de 1981, época em que Ciranda de Pedra estava em cartaz em sua primeira versão. Espero que gostem.
Adriano Reys: “O Dr. Prado é um personagem fascinante”
Alinhado, elegante em seu terno azul-marinho, cabelos bem penteados, econômico em sorrisos e empertigado nas posições diante da vida. Vencedor ou perdedor? Só ele mesmo sabe. A imagem exterior pode ser um esconderijo, um subterfúgio, para seus verdadeiros sentimentos. Assim é Prado, personagem de Ciranda de Pedra – novela de Teixeira Filho, baseada no romance de Lygia Fagundes Telles, apresentada na Rede Globo. Com exceção da aparência física, em nada o ator Adriano Reys se parece com o personagem Prado. Seus sorrisos são pródigos, simpático ao primeiro contato, falante, sem ser falastrão. De gestos tranqüilos, revelando calma, reflexo do tipo de vida que leva. Caseiro por excelência, muito ligado à família, mesmo estando na luta há mais de 25 anos. Com Ciranda de Pedra, através de Prado, Adriano Reys volta a trabalhar no Rio de Janeiro, de onde esteve afastado por muito tempo. É com entusiasmo que fala de seu personagem na novela.
“O Prado é fascinante”, afirma Adriano. “Um personagem riquíssimo, com um armazenamento psicológico, problemático, enorme. Maravilhoso. Pode ser, por etapas, odiado pelo telespectador, como também amado. Acho que representa na carreira de um ator um daqueles personagens que formam a galeria de ótimos papéis. Porque existem, na vida dos atores, personagens definitivos. Não que sejam únicos, mas representam aquela galeria do andar superior. Não é apenas mais um trabalho. É um trabalho! Sei que agora, no momento em que conversamos, o Prado deve estar sendo odiado pelas donas-de-casa, pelas mães. Embora tenha procurado dosá-lo com um certo charme, um certo envolvimento, uma certa dúvida. Não defino muito bem o que o levou a ser assim. Por trás, fica sempre a idéia de que deve existir alguma razão pra ele agir dessa maneira. Sei que, mais adiante, os telespectadores poderão se apaixonar por ele.”Para chegar à composição ideal de Prado, Adriano imaginou o que seria a vida anterior do personagem até o momento em que se inicia a narrativa de Ciranda de Pedra. Um recurso utilizado, normalmente, para o melhor desempenho de seu trabalho, permitindo juntar subsídios que ajudarão no desenrolar da trama.
“Na criação de um personagem – continua Adriano –, toma-se por base o comportamento atual, fazendo uma análise do que teria sido o passado daquela pessoa. Fiz um estudo do que seria o Prado na sua infância. É construir o personagem partindo do princípio de que ele é gente, um ser humano. Vejo o Prado como um sujeito cercado de um envolvimento familiar, um tradicionalismo, com facilidades para conseguir as coisas. Inclusive os valores, sejam eles externos ou internos. Um dia, encontrou uma mulher, Laura, e gostou. De um mundo completamente diferente do dele, mas Prado se apaixonou. Sempre com tudo sob controle, tentou controlá-la também, a seu jeito, e viu que o choque das personalidades era alto demais. Surgiram os conflitos e, logicamente, por parte de Laura, a decepção. Ela, desiludida, partiu para um outro tipo de vida. E Prado não se perdoou jamais. Por ser como é e agir da forma que age. Na verdade, é um apaixonado pela esposa, revoltado pela derrota de seu relacionamento com Laura.”A grande maioria dos personagens de Adriano Reys, segundo ele mesmo, é muito próxima de Prado. Um homem envolvente, mesmo que sem escrúpulos. O cínico-simpático resume bem essas características.“Para simplificar a minha carreira – afirma Adriano – costumo dizer que os meus personagens sempre estiveram dentro da linha cínico-simpático. Sem esquecer também o bonzinho. Sou, por natureza, romântico. E, ao ser romântico, tenho uma tendência a ser bom nas minhas inflexões, no meu modo de dizer, nas minhas intenções. Transmito com mais facilidade essa minha verdade. Agora, quando você opta por um trabalho de construção, como é o caso do Prado, já vai exigir um outro tipo de comportamento. Gosto de fazer aquilo que me enriquece mais o trabalho. Tenho uma forma, uma característica de fazer o cínico sempre de um modo bastante atraente e absorvente para o público. Ele fica mais rico, não é uma coisa grifada, envolvente. Deixa o espectador na dúvida se gosta ou não gosta, se torce ou não torce, se é a favor ou contra.
Seja charlatão ou vigarista, procuro envolver o personagem com muito charme, muita elegância, muito romantismo. Olha, uma definição perfeita para a forma com que construo os meus personagens pode ser encontrada em grande número de trabalhos de Louis Jourdan, onde, no final da história, há sempre uma reversão da expectativa: o bandido que, na verdade, era o bonzinho, ou o contrário.”Essa característica dominante de seus personagens acompanha Adriano Reys, desde o início de sua carreira, em 1956, na peça Cherri, da Companhia dos Artistas Unidos, depois de vencer um concurso para a escolha de um ator para o papel. Nesse momento, ele optou pela arte de interpretar. E deixou de lado, definitivamente, o economista formado, com apenas uma experiência em cinema, no filme Os Três Recrutas, ao lado de José Lewgoy, Colé, Ankito e Mirian Tereza, em 1955.“Depois do filme – continua Adriano –, no teste para a dublagem, o diretor me disse: ‘Você não pude dublar, porque não tem voz’. Aquilo me traumatizou violentamente, achei que era uma deficiência muito grande. Me senti um aleijadão. Resolvi fazer um curso de vocalização e comecei a me envolver com gente de teatro e a me apaixonar pela arte de representar. Até que fiquei sabendo do concurso para a peça Cherri. Me candidatei meio de farra, atendendo ao incentivo dos amigos. Fiz o teste, ganhei e estou aqui até hoje.”
Não seria exagero dizer que o Dr. Prado de Ciranda de Pedra foi o melhor papel de Adriano Reys na televisão, mas ele teve também personagens de destaque em novelas como O Direito de Nascer (1978/79), A Viagem (1975/76), O Julgamento (1976/77), Os Inocentes (1974), Como Salvar meu Casamento (1979/80), Vale Tudo (1988) e Barriga de Aluguel (1990/91), entre outras. Fica aqui a minha singela homenagem a este ator de quem sinto falta nas telenovelas.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Na torcida pelo xará

Divulgou-se ontem que o ator Fábio Assunção, intérprete de Heitor, um dos personagens principais da atual novela global das seis, Negócio da China, se afastará das gravações por tempo indeterminado devido a problemas de saúde. Não é meu intuito propor qualquer especulação em torno do que possa ter provocado os males por que Fábio vem passando, mas sim expor meus sinceros votos de uma recuperação plena e o mais rápido possível.
A saída de Fábio da novela de Miguel Falabella está prevista para o capítulo 47, no ar em 28 de novembro. Para fazer as vezes de Heitor no triângulo amoroso composto por Lívia (Grazi Massafera), João (Ricardo Pereira) e ele, surgirá na história um novo personagem, a ser interpretado por Thiago Lacerda. Thiago, lembramos, formou com Grazi o primeiro par romântico da ex-BBB em novelas, como Jorge e Thelminha em Páginas da Vida (2006/07), de Manoel Carlos.

sábado, 8 de novembro de 2008

Sonho de uns, saudade de outros

Falarei neste post de uma novela que gostaria muito de ter acompanhado, o que infelizmente acredito que nunca será possível. Os Ossos do Barão, de Jorge Andrade, foi ao ar pela Globo às dez da noite de 10 de outubro de 1973 a 31 março de 1974.
Em 1973, para substituir o sucesso O Bem-amado, de Dias Gomes, a Rede Globo decidiu prosseguir com as produções em cores para o horário de novelas das dez da noite. Conforme Walter Clark, um dos manda-chuvas da emissora na época, em sua biografia O Campeão de Audiência (Best Seller, 1991), seria um retrocesso, não faria sentido produzir outra novela em branco e preto para substituir a primeira produzida em cores.
Daniel Filho, então diretor geral do departamento de teledramaturgia global, escolheu Jorge Andrade, de sólida carreira no teatro, para escrever a novela que sucederia a O Bem-amado. Andrade partiu então para uma obra baseada em duas peças suas, A Escada e Os Ossos do Barão, que levaria o título desta última na versão televisiva. O diretor seria o mesmo da história de Dias Gomes: Régis Cardoso.
Para protagonizar a novela, foram escalados Odorico e Zeca Diabo, ou melhor, Paulo Gracindo e Lima Duarte. O primeiro passou de prefeito corrupto de Sucupira a velhinho caduco e saudoso de um passado de poder e glórias, com nome mais que pomposo: Antenor Camargo Parente de Redon Pompeo e Taques. O segundo, de cangaceiro arrependido a imigrante italiano que enriqueceu depois da crise do café, Egisto Ghirotto.
Egisto veio da Itália ainda menino, e cresceu como colono da fazenda do barão de Jaraguá, tendo enriquecido graças a economias bem investidas, aproveitando-se da explosão industrial em São Paulo. Hoje, pode vangloriar-se de possuir tudo que um dia foi do barão – inclusive os ossos, já que comprou sua cripta mortuária. O que mais desejava era obter um título de nobreza, deixar de ser visto como um carcamano ignorante e ser aceito pela sociedade. Isso é possível caso seu filho Martino (José Wilker) se case com a bisneta do barão de Jaraguá, Izabel (Dina Sfat).
Antenor, filho do barão, hoje é um senhor idoso e meio esclerosado, que ainda acredita ser de sua família tudo que não é mais, ignorando o fato de que os Parente de Redon Pompeo e Taques não são mais o que foram no passado. Casado com Melica (Carmem Silva), senhora doce e sensata, que sabe como lidar com os desvarios do marido. Os dois tiveram três filhos. Miguel (Leonardo Villar), o mais velho, casado com Verônica (Maria Luiza Castelli), pai de Izabel e Ricardo (João Carlos Barroso). Maria Clara (Neuza Amaral), viúva, mãe de duas filhas: Lourdes (Renata Sorrah) e Zilda (Sandra Bréa). Vicente (Edney Giovenazzi) era escritor e casado com Lavínia (Bibi Vogel), e a independência de sua mulher incomodava o tradicionalismo de seus parentes.
O casal de velhos passa temporadas em casa de cada um dos filhos e, como ninguém quer arcar com a responsabilidade de cuidar deles, todos entram no dilema de interná-los ou não num asilo.
Martino e Izabel começam a viver um romance tumultuado pelas circunstâncias em que surge e pelas diferenças de mentalidade e criação dos dois. Além deles, também formam-se os casais Lourdes e Luigi (José Augusto Branco) e Zilda e Jairo (Gracindo Júnior). Tanto Lourdes-Luigi quanto Zilda-Jairo sofrem com o mesmo problema: o preconceito. Luigi, por ser descendente de italianos, Jairo por ser mulato. As duas moças eram filhas de Maria Clara, portanto netas de Antenor e Melica.
Antenor gostava de passear por São Paulo, dizendo por onde passava que aquilo tudo era dele. Num desses passeios, conhece Egisto, e os dois tornam-se grandes amigos. O italiano apresenta-se com o nome de Fernão Dias, aludindo ao bandeirante, e com isso ganha a confiança do velho, que não imaginava que naquele paulista tão tradicional e puro estava um imigrante, um dos tantos que suplantaram a sua e tantas outras famílias quatrocentonas no quadro social.
Andrade aproveitou os temas centrais das duas peças. De A Escada, tirou a trama do casal de idosos cujos filhos não sabem o que fazer com eles e se decidem pelo asilo como a melhor solução; de Os Ossos do Barão, o sonho desvairado de um imigrante italiano de casar seu filho com a herdeira de uma família da aristocracia cafeeira paulista falida, para assim conseguir um título de nobreza.
A escalação de Lima Duarte para o papel de Egisto foi muito criticada pelos apaixonados da obra do autor, que desejavam ver na telenovela o mesmo intérprete que havia consagrado o personagem nos palcos, Otelo Zeloni. Crítica reforçada quando se sabe que Lélia Abramo, que viveu Bianca, mulher de Egisto, mantinha o papel na TV. Todavia, Zeloni não teria concluído a novela, uma vez que falecera em dezembro de 1973. Paulo Gracindo prosseguia brilhando na pele de Antenor, personagem completamente diferente de Odorico, porém tão bom quanto. Dina Sfat, por sua vez, se disse constrangida de interpretar na novela uma moça de 18 anos, tendo já 35 na época.
Numa época de trilhas compostas especialmente para as novelas, os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle compuseram a de Os Ossos do Barão, com destaque para “Qual É?”, cantada por um Djavan em início de carreira, e o tema de abertura com o mesmo nome da história e cantado por Marcos, cuja letra explicava a trama básica da novela: “Sei que tu tem nome / Que vale uma nota o teu sobrenome / Sei que tu ‘tá duro / Que deves uma nota, correção e juro / Eu não tenho nome / Não tenho tradição / Não tenho sobrenome / Mas tenho dinheiro / Dinheiro compra tudo / Compra o mundo inteiro”. A perfeita representação de Egisto, o italiano criado como colono da fazenda do barão de Jaraguá que fizera fortuna como industrial em São Paulo enquanto os aristocratas seguiram o caminho inverso, com a decadência do negócio de café. Enquanto isso, fazendeiros, oligarcas, vivendo em prédios de apartamentos em vez de grandes fazendas, mas conservando a pose, o orgulho e os preconceitos do passado. As chamadas da novela traziam uma frase emblemática, também explicativa: “A vida é uma escada. Uns descem para depois subir; outros sobem para descer amanhã.”
Destacam-se ainda na trilha da novela: “Meu Velho Pai” (Djalma Dias), “Chega de Enganar a Nega” (Betinho), “E Tem Mais” (Eustáquio Sena), “Tu Nella Mia Vita” (Wess & Dori Ghezzi), “Jungle Boogie” (Kool & The Gang), “You Make Me Fell Brand New” (The Stylistics) e “Love’s Theme” (Barry White & The Unlimited Orchestra). As duas últimas ressurgiriam na trilha de Celebridade, em 2003.
O autor aceitou escrever para a televisão, na contramão do pensamento dos intelectuais, que a consideravam um veículo menor, por compreender que através da televisão poderia transmitir para muito mais pessoas ao mesmo tempo a mensagem que transmitia no teatro, através de suas peças. Levando sua temática de transformação da sociedade, conflitos de gerações e da formação da sociedade paulista e brasileira, Jorge Andrade escreveu uma das melhores novelas de nossa televisão. Perfeita, crítica, densa, intelectualizada sem ser chata e sem sofrer com os “esticamentos” que podem comprometer um bom trabalho não acabado no momento certo.
Os Ossos do Barão teve 150 capítulos, cinco dos quais escritos por Bráulio Pedroso devido a males de saúde de Jorge Andrade. Em 1997, o SBT produziu uma nova versão da história, com adaptação de Walter George Durst e mescla com outra novela de Andrade: Ninho da Serpente (Bandeirantes, 1982). Tanto a da Bandeirantes quanto essa versão de Os Ossos... do SBT eu vi, e tenho saudade, mas delas falarei noutra oportunidade.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os habitantes de Southfork estão de volta na TV aberta

Às 23h30 do último sábado, a Rede TV! trouxe de volta à TV aberta a famigerada Dallas, criada por David Jacobs, uma das séries de maior sucesso em todo o mundo. Desde quando fora exibida pela Bandeirantes, entre o fim dos anos 80 e o início dos 90, a produção não era transmitida por aqui pela TV aberta, apenas em canais pagos como o falecido Teleuno (posteriormente AXN, salvo engano) e TCM.
Produzida entre 1978 e 1991, Dallas gira em torno dos milionários e poderosos Ewings, fazendeiros, criadores de gado e donos de uma empresa de extração e comércio de petróleo, a Ewing Oil. A família vive numa bela fazenda, Southfork, na região de Dallas, no Texas. Os patriarcas são Jock (Jim Davis) e Dona Ellie (Barbara Bel Geddes), pais de três filhos: o caçula Bobby (Patrick Duffy), o fraco filho do meio Gary (David Ackroyd) e o mais velho, o inescrupuloso J.R. (Larry Hagman, o Major Nelson de Jeannie É um Gênio), que manipula tudo e todos em sua luta constante por poder e dinheiro. O casamento de Bobby com a bela Pamela (Victoria Principal), filha de Digger Barnes (David Wayne), desafeto de Jock, é o ponto de partida para catorze temporadas de grande sucesso. Na década de 1980, ia ao ar aos domingos na Globo, depois dos Gols do Fantástico.
Para quem gosta de uma boa história contada em capítulos (apesar da estrutura de série, é um novelão e tanto), uma boa pedida. No TCM, os episódios são exibidos de segunda a sexta-feira às 13h, com reapresentação na manhã seguinte, às 8h.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Ciranda de Lygia na visão de Alcides

Na sexta-feira que antecedeu o primeiro turno das eleições municipais, foi ao ar o último capítulo da novela que Alcides Nogueira escreveu partindo do romance de Lygia Fagundes Telles, Ciranda de Pedra.
Foi inevitável, para aqueles que acompanharam a primeira novela baseada no romance, escrita por Teixeira Filho em 1981, a comparação. Não foram poucos a criticar a escalação do elenco, que em relação com o triângulo formado por Eva Wilma (Laura), Adriano Reys (Prado) e Armando Bogus (Daniel) soava realmente estranha. Mesmo para quem não viu a primeira novela, ao menos de início foi estranho ver Ana Paula Arósio sendo mãe de três moças com idade entre 15 e 20 anos, mais ou menos. Mas nada que o se acostumar, a "convivência" diária, não resolvessem.
Eu, como não assisti a novela que trouxe Lucélia Santos no papel de Virgínia, a caçula das três filhas de Laura e Prado que na verdade era filha de Daniel, não tive como fazer essa comparação. Comparação esta que não se justificava tanto, uma vez que Alcides deixou bem claro à época do lançamento e mesmo antes que não se tratava de um remake da novela de Teixeira Filho, mas sim uma nova leitura do livro de Lygia. Fiando-me nisso, gostando do livro e na expectativa, esperei coisa boa de Ciranda de Pedra e não me arrependi.
Não sou o maior dos fãs de Ana Paula Arósio, mas na pele de Laura a atriz me convenceu. Marcello Antony, não fosse a sua constante presença na TV nos últimos anos (desde que estreou, em 1996, aliás), talvez tivesse encantado mais o público, mas nem por isso desmerecerei seu bom trabalho como Daniel. Das três filhas de Laura, a que mais me agradou foi a talentosa e belíssima Anna Sophia Folch, intérprete de Bruna. Daniel Dantas, que estamos acostumados a ver em personagens bonzinhos, calmos, meio bobos até, apresentou um grande trabalho como Natércio Silva Prado, o grande advogado que tinha um amor desmedido, obsessivo, por Laura. Ana Beatriz Nogueira optou pela ausência do sotaque alemão em sua criação da governanta Frau Herta, apaixonada por Natércio, e deu gosto ver.
Fora do núcleo principal da história, outras grandes interpretações: Osmar Prado dando vida ao empresário italiano Cícero Cassini, sócio de Natércio; Leandra Leal na pele de Elzinha Carmelo, o "biscoito fino" da Vila Mariana que desejava conquistar um marido rico; Walderez de Barros como Ramira, a sogra que infernizava a vida do genro Memé (José Rubens Chachá).
A eterna briga de Ramira e Memé, aliás, em certos momentos tinha cara de Walcyr Carrasco. Eu vi nisso uma tentativa, talvez, de mostrar ao público algo com o que ele estivesse habituado nos últimos tempos e que tem dado certo, um estilo "carrasquiano" de humor em novela. Pode não ter sido isso, claro, mas se foi não deu muito certo, porque apesar do texto e interpretação bons, às vezes chegava a irritar, em especial o comportamento da sogra.
Confesso que, embora tenha gostado bastante, não foi tudo o que eu esperava, por um motivo em especial: Alcides, ao contar a história como pretendia, mostrou Virgínia como tendo sido criada desde sempre em casa de Natércio Prado, e não em casa de Daniel indo depois para junto das irmãs, como na novela de 1981 e, principalmente, como no romance. Mas não jogo pedras, procurei entender que essa foi uma vontade do autor para melhor contar a história que tinha na cabeça.
Segundo os parâmetros utilizados como amostra da receptividade do público (Ibope e quejandos), a novela não foi bem, ficando na casa dos 20 e poucos pontos de audiência quando o ideal para o horário, segundo a Rede Globo, é (ou pelo menos era até agora) alcançar 30 pontos. Identificando um esgotamento das novelas de época às seis horas, a emissora tratou de colocar uma novela de Miguel Falabella, autor das sete, como substituta da Ciranda, e por enquanto não se pode exatamente dizer que deu certo. Torço por uma reprise da novela, que acredito que aconteça.

domingo, 14 de setembro de 2008

O porquê deste título (e da feitura do blog rs)

Fiz este blog para escrever sobre as novelas, o que penso delas, enquanto telespectador e pesquisador do gênero. "Análises", talvez, mas nada pretensioso que chegue a querer equiparar-se a grandes teóricos de comunicação (rs). Apenas escritos de alguém que vê novelas, gosta delas e postará aqui de vez em quando umas impressões e lembranças a respeito.
Batizei o blog "De Gente pra Gente, de Emoção pra Emoção" em referência (e homenagem) à novelista Janete Clair (1925-1983), que certa vez, naquela que talvez seja a mais célebre de suas declarações, disse o seguinte, quando a jornalista Leda Nagle conversava com ela sobre o sucesso de suas histórias:
"Eu acho que eu entendo um pouco da psicologia do povo, o que ele gostaria de ver, o que é que ele de sentir naquele momento, se é uma emoção de alegria, se é uma emoção de tristeza, se é uma emoção de drama... então, eu acho que você sabendo dosar isso bem, eu não digo que seja uma fórmula pra se atingir o sucesso, mas é uma maneira de se atingir o grande público. É uma comunicação assim... de gente pra gente, de emoção pra emoção. Eu acho que é isso, não pode ser outra coisa, eu não estudei pra isso. É uma intuição. É um sexto sentido."
Acho que agora os eventuais leitores captarão a razão do título do blog (rs).
Sejam todos muito bem-vindos.