por FÁBIO COSTA
Nesta sexta-feira, dia 23, foi ao ar o último dos doze especiais do Festival Luz, Câmera, 50 Anos, com o qual a Rede Globo iniciou as comemorações de suas cinco décadas no ar exibindo versões compactas de duas horas de alguns clássicos.
"Clássicos" num sentido relativo e amplo do termo, já que das doze atrações apenas quatro tinham mais de 20 anos e pouco mais do que isso já atingiu esse status. A maioria das atrações do Festival foi exibida de 2009 para cá, sendo que O Canto da Sereia, exibida na estreia, foi ao ar pela primeira vez em 2013, e A Teia em 2014 (!).
Tânia Alves e Nelson Xavier em Lampião e Maria Bonita, primeira minissérie da Globo. |
As versões para telefilmes apresentaram de cara um risco, que era o de se deturpar as histórias em função do tempo destinado a cada uma. Projetos de curta duração como Dercy de Verdade (2012), Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor (2010) e Maysa - Quando Fala o Coração (2009) apresentam já algum desafio de edição, que se potencializa ao passar-se para produções mais longas como Presença de Anita (2001), que teve 16 capítulos no original, por exemplo. Reduzir uma minissérie de 16 ou 20 capítulos para apenas duas horas implica foco único no fio condutor da história, na trama principal, em prejuízo grande dos elementos paralelos. Anos Dourados (1986) ficou apenas nos conflitos do romance de Lurdinha (Malu Mader) e Marcos (Felipe Camargo), sendo completamente esquecido outro romance importante: o da mãe do jovem, a desquitada Glória (Betty Faria), com o Major Dornelles (José de Abreu), casado com Beatriz (Nívea Maria). Por sua vez, As Noivas de Copacabana (1992) não apresentou uma cena sequer com a personagem Marilene (Tássia Camargo), nem foi feita qualquer alusão à sua presença na galeria de vítimas do assassino Donato (Miguel Falabella).
Malu Mader e Felipe Camargo em Anos Dourados. |
Das atrações selecionadas (e exibidas), apenas quatro eram anteriores a 1995, para se tomar um período de 20 anos como recorte: As Noivas de Copacabana, O Pagador de Promessas (1988), Anos Dourados e Lampião e Maria Bonita (1982) - esta um grato achado, já que não é reprisada desde 1991 e ainda não foi lançada em DVD.
José Mayer em O Pagador de Promessas. |
À exceção da minissérie que contou os últimos dias do lendário cangaceiro, todas as outras atrações já foram bastante reprisadas, são muito recentes e/ou podem ser facilmente encontradas (em versões integrais ou, ao menos, em compactos mais extensos) em DVD ou por canais on demand da própria Globo. Compreende-se que a dimensão dos programas do Festival - telefilmes de duas horas de duração cada - restrinja a gama de opções, afinal, nem toda história se presta a uma boa edição para este tempo. Mas quem sabe as duas horas não seriam uma questão para se rever a proposta, já que restringem tanto as opções? Por que não uma atração por semana, em quatro ou cinco apresentações de uma hora?
Quanto às atrações recentes serem maioria, além de ser expediente comum em se tratando de reprises, pode também se dever a uma ideia de que o público deve ter frescas na memória produções recentes de qualidade e repercussão, e muito saudosismo pode passar, ainda que inconscientemente, a noção de que antes se fazia coisas como hoje anda faltando.
Miguel Falabella em As Noivas de Copacabana. |
Uma emissora como a Globo, ainda mais em suas comemorações de 50 anos, deveria aproveitar a oportunidade e não relegar apenas ao Viva a tarefa de resgatar seus clássicos. O público merece e precisa rever (ou conhecer) produções de nossa teledramaturgia que há muito não ganham as telas, como Avenida Paulista (1982), Tenda dos Milagres (1985), Boca do Lixo (1990), Incidente em Antares (1994), entre outras, e para falar apenas de minisséries. Acredito (e torço para) que a boa receptividade das reprises, ainda que em telefilmes, possa fazer a emissora repensar sua estratégia de programação. Julho é uma boa oportunidade que desde já se apresenta.