Amigos, posto uma entrevista de Adriano publicada na revista Amiga em junho de 1981, época em que Ciranda de Pedra estava em cartaz em sua primeira versão. Espero que gostem.
Adriano Reys: “O Dr. Prado é um personagem fascinante”
Alinhado, elegante em seu terno azul-marinho, cabelos bem penteados, econômico em sorrisos e empertigado nas posições diante da vida. Vencedor ou perdedor? Só ele mesmo sabe. A imagem exterior pode ser um esconderijo, um subterfúgio, para seus verdadeiros sentimentos. Assim é Prado, personagem de Ciranda de Pedra – novela de Teixeira Filho, baseada no romance de Lygia Fagundes Telles, apresentada na Rede Globo. Com exceção da aparência física, em nada o ator Adriano Reys se parece com o personagem Prado. Seus sorrisos são pródigos, simpático ao primeiro contato, falante, sem ser falastrão. De gestos tranqüilos, revelando calma, reflexo do tipo de vida que leva. Caseiro por excelência, muito ligado à família, mesmo estando na luta há mais de 25 anos. Com Ciranda de Pedra, através de Prado, Adriano Reys volta a trabalhar no Rio de Janeiro, de onde esteve afastado por muito tempo. É com entusiasmo que fala de seu personagem na novela.
“O Prado é fascinante”, afirma Adriano. “Um personagem riquíssimo, com um armazenamento psicológico, problemático, enorme. Maravilhoso. Pode ser, por etapas, odiado pelo telespectador, como também amado. Acho que representa na carreira de um ator um daqueles personagens que formam a galeria de ótimos papéis. Porque existem, na vida dos atores, personagens definitivos. Não que sejam únicos, mas representam aquela galeria do andar superior. Não é apenas mais um trabalho. É um trabalho! Sei que agora, no momento em que conversamos, o Prado deve estar sendo odiado pelas donas-de-casa, pelas mães. Embora tenha procurado dosá-lo com um certo charme, um certo envolvimento, uma certa dúvida. Não defino muito bem o que o levou a ser assim. Por trás, fica sempre a idéia de que deve existir alguma razão pra ele agir dessa maneira. Sei que, mais adiante, os telespectadores poderão se apaixonar por ele.”Para chegar à composição ideal de Prado, Adriano imaginou o que seria a vida anterior do personagem até o momento em que se inicia a narrativa de Ciranda de Pedra. Um recurso utilizado, normalmente, para o melhor desempenho de seu trabalho, permitindo juntar subsídios que ajudarão no desenrolar da trama.
“Na criação de um personagem – continua Adriano –, toma-se por base o comportamento atual, fazendo uma análise do que teria sido o passado daquela pessoa. Fiz um estudo do que seria o Prado na sua infância. É construir o personagem partindo do princípio de que ele é gente, um ser humano. Vejo o Prado como um sujeito cercado de um envolvimento familiar, um tradicionalismo, com facilidades para conseguir as coisas. Inclusive os valores, sejam eles externos ou internos. Um dia, encontrou uma mulher, Laura, e gostou. De um mundo completamente diferente do dele, mas Prado se apaixonou. Sempre com tudo sob controle, tentou controlá-la também, a seu jeito, e viu que o choque das personalidades era alto demais. Surgiram os conflitos e, logicamente, por parte de Laura, a decepção. Ela, desiludida, partiu para um outro tipo de vida. E Prado não se perdoou jamais. Por ser como é e agir da forma que age. Na verdade, é um apaixonado pela esposa, revoltado pela derrota de seu relacionamento com Laura.”A grande maioria dos personagens de Adriano Reys, segundo ele mesmo, é muito próxima de Prado. Um homem envolvente, mesmo que sem escrúpulos. O cínico-simpático resume bem essas características.“Para simplificar a minha carreira – afirma Adriano – costumo dizer que os meus personagens sempre estiveram dentro da linha cínico-simpático. Sem esquecer também o bonzinho. Sou, por natureza, romântico. E, ao ser romântico, tenho uma tendência a ser bom nas minhas inflexões, no meu modo de dizer, nas minhas intenções. Transmito com mais facilidade essa minha verdade. Agora, quando você opta por um trabalho de construção, como é o caso do Prado, já vai exigir um outro tipo de comportamento. Gosto de fazer aquilo que me enriquece mais o trabalho. Tenho uma forma, uma característica de fazer o cínico sempre de um modo bastante atraente e absorvente para o público. Ele fica mais rico, não é uma coisa grifada, envolvente. Deixa o espectador na dúvida se gosta ou não gosta, se torce ou não torce, se é a favor ou contra.
Seja charlatão ou vigarista, procuro envolver o personagem com muito charme, muita elegância, muito romantismo. Olha, uma definição perfeita para a forma com que construo os meus personagens pode ser encontrada em grande número de trabalhos de Louis Jourdan, onde, no final da história, há sempre uma reversão da expectativa: o bandido que, na verdade, era o bonzinho, ou o contrário.”Essa característica dominante de seus personagens acompanha Adriano Reys, desde o início de sua carreira, em 1956, na peça Cherri, da Companhia dos Artistas Unidos, depois de vencer um concurso para a escolha de um ator para o papel. Nesse momento, ele optou pela arte de interpretar. E deixou de lado, definitivamente, o economista formado, com apenas uma experiência em cinema, no filme Os Três Recrutas, ao lado de José Lewgoy, Colé, Ankito e Mirian Tereza, em 1955.“Depois do filme – continua Adriano –, no teste para a dublagem, o diretor me disse: ‘Você não pude dublar, porque não tem voz’. Aquilo me traumatizou violentamente, achei que era uma deficiência muito grande. Me senti um aleijadão. Resolvi fazer um curso de vocalização e comecei a me envolver com gente de teatro e a me apaixonar pela arte de representar. Até que fiquei sabendo do concurso para a peça Cherri. Me candidatei meio de farra, atendendo ao incentivo dos amigos. Fiz o teste, ganhei e estou aqui até hoje.”
“O Prado é fascinante”, afirma Adriano. “Um personagem riquíssimo, com um armazenamento psicológico, problemático, enorme. Maravilhoso. Pode ser, por etapas, odiado pelo telespectador, como também amado. Acho que representa na carreira de um ator um daqueles personagens que formam a galeria de ótimos papéis. Porque existem, na vida dos atores, personagens definitivos. Não que sejam únicos, mas representam aquela galeria do andar superior. Não é apenas mais um trabalho. É um trabalho! Sei que agora, no momento em que conversamos, o Prado deve estar sendo odiado pelas donas-de-casa, pelas mães. Embora tenha procurado dosá-lo com um certo charme, um certo envolvimento, uma certa dúvida. Não defino muito bem o que o levou a ser assim. Por trás, fica sempre a idéia de que deve existir alguma razão pra ele agir dessa maneira. Sei que, mais adiante, os telespectadores poderão se apaixonar por ele.”Para chegar à composição ideal de Prado, Adriano imaginou o que seria a vida anterior do personagem até o momento em que se inicia a narrativa de Ciranda de Pedra. Um recurso utilizado, normalmente, para o melhor desempenho de seu trabalho, permitindo juntar subsídios que ajudarão no desenrolar da trama.
“Na criação de um personagem – continua Adriano –, toma-se por base o comportamento atual, fazendo uma análise do que teria sido o passado daquela pessoa. Fiz um estudo do que seria o Prado na sua infância. É construir o personagem partindo do princípio de que ele é gente, um ser humano. Vejo o Prado como um sujeito cercado de um envolvimento familiar, um tradicionalismo, com facilidades para conseguir as coisas. Inclusive os valores, sejam eles externos ou internos. Um dia, encontrou uma mulher, Laura, e gostou. De um mundo completamente diferente do dele, mas Prado se apaixonou. Sempre com tudo sob controle, tentou controlá-la também, a seu jeito, e viu que o choque das personalidades era alto demais. Surgiram os conflitos e, logicamente, por parte de Laura, a decepção. Ela, desiludida, partiu para um outro tipo de vida. E Prado não se perdoou jamais. Por ser como é e agir da forma que age. Na verdade, é um apaixonado pela esposa, revoltado pela derrota de seu relacionamento com Laura.”A grande maioria dos personagens de Adriano Reys, segundo ele mesmo, é muito próxima de Prado. Um homem envolvente, mesmo que sem escrúpulos. O cínico-simpático resume bem essas características.“Para simplificar a minha carreira – afirma Adriano – costumo dizer que os meus personagens sempre estiveram dentro da linha cínico-simpático. Sem esquecer também o bonzinho. Sou, por natureza, romântico. E, ao ser romântico, tenho uma tendência a ser bom nas minhas inflexões, no meu modo de dizer, nas minhas intenções. Transmito com mais facilidade essa minha verdade. Agora, quando você opta por um trabalho de construção, como é o caso do Prado, já vai exigir um outro tipo de comportamento. Gosto de fazer aquilo que me enriquece mais o trabalho. Tenho uma forma, uma característica de fazer o cínico sempre de um modo bastante atraente e absorvente para o público. Ele fica mais rico, não é uma coisa grifada, envolvente. Deixa o espectador na dúvida se gosta ou não gosta, se torce ou não torce, se é a favor ou contra.
Seja charlatão ou vigarista, procuro envolver o personagem com muito charme, muita elegância, muito romantismo. Olha, uma definição perfeita para a forma com que construo os meus personagens pode ser encontrada em grande número de trabalhos de Louis Jourdan, onde, no final da história, há sempre uma reversão da expectativa: o bandido que, na verdade, era o bonzinho, ou o contrário.”Essa característica dominante de seus personagens acompanha Adriano Reys, desde o início de sua carreira, em 1956, na peça Cherri, da Companhia dos Artistas Unidos, depois de vencer um concurso para a escolha de um ator para o papel. Nesse momento, ele optou pela arte de interpretar. E deixou de lado, definitivamente, o economista formado, com apenas uma experiência em cinema, no filme Os Três Recrutas, ao lado de José Lewgoy, Colé, Ankito e Mirian Tereza, em 1955.“Depois do filme – continua Adriano –, no teste para a dublagem, o diretor me disse: ‘Você não pude dublar, porque não tem voz’. Aquilo me traumatizou violentamente, achei que era uma deficiência muito grande. Me senti um aleijadão. Resolvi fazer um curso de vocalização e comecei a me envolver com gente de teatro e a me apaixonar pela arte de representar. Até que fiquei sabendo do concurso para a peça Cherri. Me candidatei meio de farra, atendendo ao incentivo dos amigos. Fiz o teste, ganhei e estou aqui até hoje.”
Não seria exagero dizer que o Dr. Prado de Ciranda de Pedra foi o melhor papel de Adriano Reys na televisão, mas ele teve também personagens de destaque em novelas como O Direito de Nascer (1978/79), A Viagem (1975/76), O Julgamento (1976/77), Os Inocentes (1974), Como Salvar meu Casamento (1979/80), Vale Tudo (1988) e Barriga de Aluguel (1990/91), entre outras. Fica aqui a minha singela homenagem a este ator de quem sinto falta nas telenovelas.
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